Biotecnologias da Reprodução aplicadas na criação de eqüinos

A maioria dos povos do mundo mantém uma rela-ção apaixonante com o cavalo. O cavalo só não habita regiões de clima e vegetação extrema-mente inóspitos, onde lhe seria impossível viver ou ser utilizado. Nas demais áreas acompanha o homem em sua luta pela sobrevivência. Nenhum outro animal tem ajudado tanto o homem, em quase todas as atividades ao longo de eras.

 


 

A maioria dos povos do mundo mantém uma rela-ção apaixonante com o cavalo. O cavalo só não habita regiões de clima e vegetação extrema-mente inóspitos, onde lhe seria impossível viver ou ser utilizado. Nas demais áreas acompanha o homem em sua luta pela sobrevivência. Nenhum outro animal tem ajudado tanto o homem, em quase todas as atividades ao longo de eras.

A atual conjuntura da criação de cavalos tem nos surpreendido com uma grande amplitude e diversificação das atividades eqüestres que esta espécie é capaz de desenvolver, lapidando assim a indústria eqüina que hoje possui um importante papel sócio-econômico.

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) estima que a indústria do cavalo nacional empregue diretamente mais de 600 mil pessoas, além de o Brasil ter o terceiro maior rebanho eqüino do mundo, contendo aproximadamente 6 milhões de animais.

O interesse na aplicação de biotécnica voltada à reprodução eqüina vem se fomentando cada vez mais como ferramenta para acelerar o ganho genético e tornando nossos animais mais competitivos.

Essas biotécnicas têm-se enfocado na obtenção de melhores taxas de concepção de indivíduos portadores de subfertilidade de origem ou não hereditária, além de maximizar o aproveitamento de animais férteis de alto potencial genético.

Pesquisas voltadas à reprodução assistida, como a inseminação artificial, congelação de sêmen e embriões, transferência de embriões (T.E.), transferência de oócito (T.O.), fertilização in vitro (F.I.V.), inseminação intracitoplasmática (I.C.I.S.) e transferência de gametas intra-falopiana (G.I.F.T.), no intuito de otimizar o ganho genético do criatorio nacional, têm despertado grande interesse entre criadores e associações de criadores de cavalos.

Essas tecnologias têm contribuído no incremento do potencial genético de animais de interesse zoo­técnico, na preservação de material genético de uma linhagem de animal ameaçada de extinção e bem como superar problemas de fertilidade.

No Brasil existem clínicas especializadas em fertilidade de eqüinos que, em conjunto com a Faculdade de Medicina e Veterinária da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de Botucatu têm procurado auxiliar os criadores com novas biotecnologias, proporcionando assim a conservação e o ganho genético de uma raça.

Neste artigo, procuraremos abordar os principais avanços no mercado biotecnológico nacional da criação de cavalos e quais são as possíveis saídas para os problemas de fertilidade em garanhões.

 

Inseminação Artificial: o uso de sêmen congelado ou refrigerado


 

A inseminação artificial (I.A.) consiste em, após a obtenção do sêmen, depositá-lo no interior do trato genital (útero) da fêmea a ser inseminada. Esta tem sido utilizada principalmente para aumentar o número de produtos (potros) obtidos de um determinado garanhão e também como um meio alternativo, quando há impossibilidade de realizar uma monta natural por motivos diversos.

Um outro aspecto importante diz respeito à possibilidade de se transportar o sêmen, evitando dessa forma todos os problemas relacionados ao transporte de éguas com potro ao pé.

Entre as técnicas de I.A., temos a possibilidade da utilização de: sêmen fresco (A I.A. é feita imediatamente após a colheita do sêmen); sêmen refrigerado (O sêmen é armazenado por um tempo de 24 a 48 horas a uma temperatura entre 5ºC e 15ºC); e sêmen congelado (o sêmen é armazenado por tempo indeterminado a uma temperatura de -196ºC).

Há inúmeras vantagens na utilização das técnicas de refrigeração e congelação de sêmen eqüino. Entre elas, podemos ressaltar a agilidade no processo da inseminação artificial, devido ao rápido transporte de material genético de alta qualidade, o controle das doenças sexualmente transmissíveis e diminuição de custos com aquisição de garanhões superiores, razões suficientes para que a refrigeração e a congelação de sêmen estivesse sedimentada na rotina de muitos haras. Contudo, como qualquer técnica, deve ser aplicada por indivíduos com conhecimento adequado para implementá-la, o uso incorreto certamente trará efeitos contrário ao desejado.

Um novo impulso no interesse pelo uso do sêmen congelado e conseqüentemente nas pesquisas voltadas a solicitar os problemas relacionados à fertilidade e as suas aplicações, foi observado logo após a liberação das associações dos criadores de cavalos da raça Árabe e da associação americana da raça Quarto de Milha quanto ao uso destas biotécnicas. Hoje, das 60 associações de cavalos regis­trados nos E.U.A, 54 permitem o uso do sêmen congelado, por reconhecerem ser esta a melhor forma de seguro quanto a perdas futuras.

No Brasil, das 10 maiores associações de cavalos, seis permitem o uso do sêmen congelado, podendo ser destacado entre eles a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), que recentemente aprovou essa utilização.


 

Há inúmeras vantagens na utilização das técnicas de refrigeração e congelação de sêmen eqüino. Entre elas, podemos ressaltar a agilidade no processo da inseminação artificial, devido ao rápido transporte de material genético de alta qualidade, o controle das doenças sexualmente transmissíveis e diminuição de custos com aquisição de garanhões superiores, razões suficientes para que a refrigeração e a congelação de sêmen estivesse sedimentada na rotina de muitos haras.

Contudo, como qualquer técnica, deve ser aplicada por indivíduos com conhecimento adequado para implementá-la, o uso incorreto certamente trará efeitos contrário ao desejado.

Um novo impulso no interesse pelo uso do sêmen congelado e conseqüentemente nas pesquisas voltadas a solicitar os problemasrelacionados à fertilidade e as suas aplicações, foi observado logo após a liberação das associações dos criadores de cavalos da raça Árabe e da associação americana da raça Quarto de Milha quanto ao uso destas biotécnicas. Hoje, das 60 associações de cavalos regis­trados nos E.U.A, 54 permitem o uso do sêmen congelado, por reconhecerem ser esta a melhor forma de seguro quanto a perdas futuras.

No Brasil, das 10 maiores associações de cavalos, seis permitem o uso do sêmen congelado, podendo ser destacado entre eles a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), que recentemente aprovou essa utilização.

O mais importante fator limitante do uso rotineiro do sêmen congelado de cavalos está relacionado à própria espécie, na qual uma grande parcela dos garanhões apresentam características de sêmen pós-descongelado inadequado para o uso.

Em estudos realizados pelo grupo de pesquisadores da UNESP-Botucatu, observou-se que entre 80 garanhões de diferentes raças, cerca de 50% das raças de Hipismo (Brasileiro de Hipismo, Hannoveriano, Holsteiner e Trakehner) e Quarto de Milha apresentam sêmen com bom padrão de motilidade pós-descongelamento. Para outras raças nacionais estudadas, como Mangalarga e Mangalarga Marchador, esses percentuais caiu para cerca de 20%, demonstrando haver um fator racial relacionado à resistência do sêmen ao processo de congelação.

Outra observação relevante é o fato de que, mesmo apresentando sêmen com boa preservação da motilidade, os resultados de fertilidade podem ser ruins. Ou seja, as técnicas de avaliação laboratorial rotineiramente utilizada não nos permitem predizer ou garantir fertilidade. Uma variação de 10 a 70% nos índices de fertilidade por ciclo tem sido observado para sêmen congelado de diferentes garanhões com uma média de 45% de gestação. Existe uma tendência a uma boa repetibilidade de resultados de fertilidade, ou seja, garanhões com alta fertilidade sempre apresentarão bons resultados.

Por outro lado, se faz necessário o desenvolvimento de técnicas alternativas de inseminação artificial que permitam um melhor aproveitamento do sêmen congelado em função da limitada capacidade de produção de doses por ejaculado (média 3 a 5 doses). Nos três últimos anos, têm-se estudado formas alternativas para a inseminação artificial com a utilização da histeroscopia e o uso de um modelo flexível de pipeta. Eles consistem em utilizar um baixo número de espermatozoides na junção útero-tubárica (local mais próximo que conseguimos depositar o sêmen para fertilizar o óvulo, sem um procedimento cirúrgico). Com esse procedimento, conseguimos multiplicar de 4 a 5 vezes o número de potros nascidos com apenas uma dose inseminante.

Pelas dificuldades encontradas em relação ao uso em larga escala do sêmen congelado, onde a variação da fertilidade associada à necessidade de realização de um controle folicular rígido, para que as inseminações sejam realizadas o mais próximo possível da ovulação, faz com que técnica de refrigeração de sêmen vem sendo rotineiramente utilizada para o transporte de sêmen.

A refrigeração e transporte de sêmen não são utilizados somente para transpor o problema da distância geográfica entre os haras, mas também para a prevenção de doenças que possam se disseminar com o trânsito de animais entre propriedades. Outro aspecto importante diz respeito a poupar potros de poucos dias de idade passarem pelo estresse da mudança de ambiente e de viagens prolongadas. Da mesma forma, a refrigeração de sêmen acelera o melhoramento genético, onde associada à transferência de embriões permite que uma égua seja utilizada com diferentes garanhões em uma mesma estação de monta, independentemente da distância entre eles.

Contudo, algumas limitações existem em relação ao uso rotineiro do sêmen refrigerado. A principal limitação diz respeito ao tempo de preservação pois, para que se garanta índices de fertilidade próximos aos obtidos com o uso do sêmen fresco, o tempo de refrigeração não deve ultrapassar a 24 horas. Diferentes experimentos foram realizados ao longo dos últimos 10 anos e muito pouco se evoluiu quanto à possibilidade de preservar a fertilidade das células espermáticas de eqüinos por um período de tempo superior a 24 horas.

Certamente, alguns reprodutores excepcionais apresentam sua fertilidade preservada por até 48 horas de armazenamento, pois similar ao sêmen congelado existem garanhões mais e menos resistentes ao processo de refrigeração. Obviamente, quanto mais tempo o sêmen eqüino possa ser estocado, mantendo também a fertilidade, maior flexibilidade teremos em coletar e enviar o sêmen. É importante enfatizar que a motilidade não é sempre um bom indicador da fertilidade no sêmen refrigerado e que as inseminações devem ser realizadas em um período de tempo máximo de 24 horas antes das ovulações.

Trabalhos demonstram que para garanhões com baixa resistência a refrigeração a centrifugação do sêmen, a retirada do plasma seminal é sempre benéfica, contudo para cavalos que refrigeram bem a centrifugação não traz nenhum benefício.

É importante enfatizar que, para a obtenção de bons índices de fertilidade, o sêmen depois de processado (coletado e diluído ao meio de manutenção do sêmen) deve ser acondicionado em recipientes especialmente desenvolvidos para esse fim.


 

Os recipientes devem obedecer às curvas de refrigeração já determinadas como adequadas. A temperatura de refrigeração ideal é a de 5ºC. Contudo, para determinados garanhões temperaturas próximas de 15ºC preservam a melhor motilidade espermática. É importante destacar que o sêmen preservado a 15ºC não pode ser armazenado por um período de tempo superior a 24 horas.

Existe no mercado Internacional um container denominado Equitainer, que propicia uma queda adequada de emperatura até 5ºC (leva aproximadamente 8 horas para atingir essa temperatura), permitindo manter o sêmen resfrigerado por até 48 horas. Ainda não há disponível no mercado sistemas que mantenham a temperatura a 15ºC.

No Brasil, já existem sistemas eficientes para transporte de sêmen eqüino, entre eles, o transporte a 15ºC (Botu-box, Max-Sêmen) e recentemente um outro para transporte a 5ºC (Botutainer). O sistema Botutainer segue a mesma curva de queda de temperatura do Equitainer (sistema americano) e se mostrou tão eficiente quanto a este na preservação da motilidade, bem como na proteção as variações de temperatura externa.

Em nosso país, também existem comercialmente quatro diluentes para diluição e transporte de sêmen eqüino (Equimix, Max-Sêmen, Botu-Sêmen e Botu-Turbo), meios que podem ser utilizados tanto para inseminação artificial de sêmen a fresco como refrigerado. O diluente Botu-Turbo é composto de estimulantes de motilidade que parecem melhorar a resistência a refrigeração (5º C) de sêmen de garanhões que apresentem baixa qualidade.

 Produção "in-vitro" de Embriões


 

A fertilização "in-vitro" (FIV) permite a produção em laboratório de embriões de fêmeas que, por motivos diversos, estão impossibilitadas de naturalmente produzirem embriões. Contudo, sistemas empregados em outras espécies para produção de embriões (maturar oócitos, capacitar espermato­zóides e cultivar embriões) "in-vitro" não se adequam à espécie eqüina. Em outras espécies, como bovinos, a aplicação da FIV já resultou em centenas de milhares de produtos nascidos, sendo inclusive aplicada comercialmente em larga escala. Por outro lado, raros foram os produtos gerados até o momento através da FIV em eqüinos.

Em cavalos, os progressos envolvendo o estudo dos eventos precoces da fertilização têm sido lentos quando comparados a outras espécies de animais domésticos. Os índices de sucesso de etapas individuais que envolvem a produção in-vitro de embriões em eqüinos ainda estão longe de permitirem a utilização dessas técnicas em protocolos de rotina, como acontece em bovinos.

Os únicos potros nascidos, após procedimentos in-vitro no cavalo, são originados da fertilização de um oócito (óvulo de égua doadora) maturado in-vivo (dentro da própria égua), sendo posteriormente introduzido um único espermatozóide intracito­plasmático (dentro do oócito).

Essa técnica denominada de ICSI está sendo indicada além de éguas subférteis, para sêmen congelado de garanhões que possui baixa motilidade (10 - 20%) e que conseqüentemente tenham dificuldade de emprenhar uma égua. Visando contornar o problema da FIV, tem sido utilizado recentemente em maior escala em eqüinos a Transferência de Oócitos (TO), que consiste na retirada do oócito de uma égua de alto valor zootéc­nico, impossibilitada de produzir embriões, o qual será transferido para o oviduto (local de fertilização) de outra égua que será inseminada e gestará o potro.

Entretanto, mais uma vez a natureza impõe uma limitação à aplicação de uma biotecnologia na espécie eqüina, pois oócito de éguas idosas (com mais de 18 anos), as quais são as principais candidatas a TO, apresentam um baixo índice de fertilidade (aproximadamente 30%). Contudo, essa é a única técnica no momento viável para obtenção de produtos de éguas impossibilitadas de produzir embriões. Nessa técnica, os oócitos são aspirados via vaginal e transferidos via acesso cirúrgico pelo flanco para o oviduto de uma receptora. A égua receptora é inseminada do modo convencional (intra-uterino) antes e após a TO. Desta forma a maturação do oócito quanto a capacitação espermática, ou seja a fertilização, ocorre de forma natural.

 * Márcio Teoro do Carmo é médico veterinário, doutorando em reprodução animal na FMVZ-UNESP - Botucatu/SP (CRMV-SP 11198) mtc.vet@uol.com.br Mariana Thais de Almeida é médica veterinária autônoma, atua na área de biotecnologia da reprodução eqüina (CRMV-SP 19857) mathaisvet@yahoo.com.br Tel: (14) 9718.6225 / 3811.6249

 

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