Brasil terá seus homenageados no "Hall da Fama"

Por: Abdalla Jorge Abib

Como na American Quarter Horse Association (AQHA) o "Hall Of Fame" tem no mais alto reconhecimento aqueles que fizeram a história do Quarto de Milha norte-americano, agora chegou a vez do Brasil iniciar também esta justa homenagem. Após tanto tempo de espera, a Diretoria da ABQM realiza este tão esperado reconhecimento aos primeiros quartistas e animais que se tornaram verdadeiros ícones da raça e de nossa Associação. Em uma selecionada lista de nomes, que serão escolhidos todos os anos, foram definidos os oito primeiros que darão a largada para receber esse almejado troféu. A festa se dará no mês de agosto, durante a entrega do troféu aos melhores da temporada 2010 no 4º ABQM Awards. São eles, respectivamente, os criadores: dr. José Eugênio de Rezende Barbosa, dr. Euclydes Aranha Netto, dr. Heraldo de Araújo Pessoa e a Swift King Ranch; e os animais: Caracolito, Dash For Cash Jr, Bianca EB 33 e Cromita MA 10.

A Revista Quarto de Milha sente-se orgulhosa em resgatar um pouco da história da raça, recapitulando trechos de importantes reportagens inseridas ao longo dos 27 anos desta publicação e de outros informativos da ABQM.

Francis Lansdale Herbert

King Ranch do Brasil - 48 anos de serviços prestados à raça Quarto de Milha

Mencionar a palavra "King Ranch" é lembrar da origem da raça no Brasil. Essa tradição começou em 1953 quando aqui desembarcou o texano Roberto Kleberg Júnior, o "tio Kleberg", com a missão de investir em nosso País. Sabia que encontraria muitas dificuldades, como solo bruto e tecnologia de terceiro mundo. Mas trazia na bagagem o know-how da King Ranch Internacional. Outros homens da mesma origem juntaram-se a Robert para formar, com o decorrer do tempo, uma potência agropecuária. "Viemos como bons cidadãos decididos a investir e progredir no Brasil", disseram os nortes-americanos".

Em uma vasta reportagem publicada em nossa revista no ano de 1993, sobre a KRB, Joaquim Soares Neto, o Zezo, gerente da Divisão de Bovinos da empresa, relembra um pouco da história. Ele contou que na época tinha 17 anos e testemunhou o desembarque dos primeiros animais no Brasil. Com os cabelos grisalhos, marcados pela experiência de 57 anos de vida, disse com uma ponta de emoção:

"O desembarque foi na Fazenda Laranja Doce, em 1953. Eles vieram de São Paulo por via ferroviária. Tinha a impressão que iria buscar o cavalo do Roy Rogers. Havia chegado a nossa vez. Iríamos virar bandidos ou mocinhos", brinca Zezo. Quando as portas do trem se abriram e os peões viram aquelas sete éguas e o garanhão Saltilo Jr., ficaram impressionados coma musculatura dos animais. Com eles vieram também 372 cabeças de gado Santa Gertrudis. A boiada chegou com sede, desembestou do trem e foi beber água num brejo ao lado da estação. Deu uma trabalheira danada para juntar todos os bois.

Os cavalos foram puxados com dois cabos de cabrestos, escoltados um a um por dois peões de cada lado do animal. ?Para nós, eles pareciam deuses'. Não sabíamos direito como puxá-los. Sentiamos uma mistura de medo e respeito pelos cavalos.

O primeiro cavalo que desembarcou no Brasil foi o Saltilo Jr., mas quem recebeu o registro número da ABQM foi o Caracolito, vencedor nos Estados Unidos de três prêmios como Grande Campeão, dois reservados campeonatos e tendo alcançado em 22 vezes o primeiro prêmio.

A King Ranch foi responsável por expandir o Quarto de Milha pelo Brasil, onde filhos de garanhões como Dan's Boy Skippy, Failas Ambassador, San Cardenal, Víbora Solano, Sucesso SKR, Obrigativo SKR, Pround Efford e Dash United estão espalhados por todo o território brasileiro".

A King Ranch do Brasil S.A Agropastorial foi fundada dentro de um plano de internacionalização da King Ranch Inc., idealizado por Robert J. Kleberg Jr. A empresa logo adquiriu as fazendas Formosa e Mosquito, localizadas nos municípios de Rancharia e Narandiba, respectivamente, próximas a Presidente Prudente (SP), em uma área de aproxima­damente 10 mil alqueires, onde foram conservadas as cocheiras que alojaram os primeiros cavalos vindo dos estados Unidos.

A empresa, que faz parte do Grupo Swift King Ranch Inc., foi dirigida no Brasil por vários representantes norte-americanos, que comandaram a área administrativa, entre eles o sr. Francis Lansdale Herbert, um dos mais competentes profissionais e que transmitiu ao longo dos anos muita simpatia no meio quartista brasileiro, tornando-se Sócio Benemérito pela ABQM.

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José Eugênio de Rezende Barbosa

José Eugênio teve duas paixões: a medicina e os cavalos

José Eugênio de Rezende Barbosa nasceu em 20 de novembro de 1912, na cidade de São Simão, Estado de São Paulo e faleceu aos 91 anos, na capital paulista. Foi mé­dico otorrinolarin­gologista, diplo­mado pela Faculdade de Medicina da Univer­sidade de São Paulo, em 6 de janeiro de 1936. Desde formado, trabalhou gratuitamente na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo dentro de sua especialidade, sendo nomeado Chefe de Clínica. Cerca de 50 anos mais tarde, se aposentou como Professor da Faculdade de Ciências Médicas, tendo sido um dos seus mais entusiasmados membros e trabalhado com afinco para sua fundação. Recebeu diversos prêmios em reconhecimento de sua atuação profissional tais como o Prêmio Honório Líbero (1944) e Mário Ottoni de Rezende (1947). Ele foi casado com Lia Junqueira Netto de Rezende Barbosa, falecida em 1993, com quem teve cinco filhos (Ricardo, Tereza, Marta, Mara e Henrique) ao longo de mais de 50 anos de uma vida feliz.

José Eugênio foi um pioneiro na criação do Quarto de Milha, proprietário do Haras Estrela Nova, em São Simão (SP), tornando-se o primeiro presidente da ABQM. Ele dirigiu a nossa Associação por duas gestões consecutivamente em 1969, quando foi fundada em 15 de agosto e em 23 de abril de 1971 no 2º mandato. Além de ocupar o cargo de presidente da Comissão de Fomento do Jockey Club de São Paulo e por seus conhecimentos sobre outras raças, sempre esteve à vontade para contar sobre o QM e sua introdução no Brasil. Ao longo dos anos recebeu o honroso título de Sócio Benemérito da ABQM.

Entrevistado por nosso veículo, em 1983 e 1989, opinou sobre a raça e outros assuntos que continuam atuais. Acompanhe alguns trechos destas reportagens:

"A ABQM, pelo que já fez, não pode continuar tendo como sócios, como incentivadores, apenas os idealistas iniciais e os demais que se agregaram posteriormente. Agora não há razão para duvidar da validade da entidade, pelos serviços prestados e que ainda terá de prestar ao QM. A expansão do cavalo no Brasil, cujos números hoje alcançam 8 mil puros e 23 mil mestiços (1989), deve-se basicamente à sua qualidade de mais versátil do mundo".

"Não se trata de um lugar comum falar que o QM é o mais versátil: ele serve para andar e competir em 11 provas com características diferentes. Que outro cavalo faz isso? Tem mais: o QM é raçudo e reproduz suas características. Hoje é o animal escolhido para cruzamento com mestiços e todos os descendentes puxam ao QM".

"A própria ABQM, ao congregar os poucos criadores da época, propiciou o surgimento da raça com essa espantosa rapidez. Jamais poderíamos imaginar que em tão pouco tempo tivesse esse desenvolvimento. Na época, eu, Francisco Furquim Correa, Antonio Carlos Quartim Barbosa, Heraldo Pessoa e outros da região de Presidente Prudente pensamos em nos juntar em uma sociedade, daí nasceu a ABQM".

"Começamos a fazer reuniões numa agência de automóveis e continuamos na Santa Casa de São Paulo. Terminávamos sempre no restaurante La Cocagne. O papel do primeiro grupo diretor foi o de fazer a propaganda do cavalo, não do criador individualmente, para que todos conhecessem a raça. Combinamos que ninguém falaria de seu rebanho, mas da raça. E para isso usamos os meios mais revolu­cionários em termos de comunicação".

"Dentre esses meios, José Eugênio diz que o Quarto de Milha foi o primeiro no Brasil a utilizar o adesivo em automóveis. "Organizamos também desfiles em Cidade Jardim e na Gávea, sempre cuidando que a raça fosse bem divulgada. Traçamos esse objetivo enquanto a parte burocrática, como registro dos estatutos e reconhecimento da raça, era encaminhada junto à Comissão Coordenadora da Criação do Cavalo Nacional (CCCCN)".

"Decidimos durante alguns anos não vender cavalo ?na beira da cerca'. Nesse momento foi introduzida a prática do leilão, como forma de expandir a raça junto a novos criadores. Lembro-me do primeiro leilão, na Água Branca, que foi um sucesso". Na sequência todas as raças seguiram nosso modelo organizado de leilões".

"Às diretorias seguintes coube consolidar e expandir a raça. Entre outras coisas deram início ao QM na carreira, por meio das pencas".

"O nosso rebanho caminha para se transformar numa das referên­cias do mundo. É o único cavalo que mostra a sua beleza de linha, sua potência muscular, sua velocidade e sua inteligência ao sentir a relação entre si e o cavaleiro. Por isso sua expansão deu-se em todo o país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. No Norte e Nordeste é muito utilizado no serviço e nas vaquejadas".

"O cruzamento do QM com o PSI - meio sangue cruzado - é cada vez mais comum, com grande rendimento nas corridas. No Brasil, o QM encontrou todas as condições de adaptação, daí o seu número crescente. Entre nós, trata-se de raça com mais potencial de crescimento, se comparado com os demais".

"Acho que o grande objetivo a ser alcançado pelas próximas diretorias é a construção de hipódromos particulares para o QM junto às grande cidades".

Euclydes Aranha Netto

Euclydes Aranha, gaúcho de Alegrete, foi o 2º presidente da ABQM

Euclydes Aranha Netto tomou posse como presidente da ABQM em Assembléia Geral Ordinária realizada no dia 27 de abril de 1973 e comandou a Associação no biênio de 1973/5. Pela dedicação à raça Quarto de Milha tornou-se também Sócio Benemérito da ABQM.

Nasceu no dia 4 de janeiro de 1920, na cidade de Alegrete (RS). Foi casado com Irene Terra Lopes Aranha, tendo os seguintes filhos: Ana Lucia Aranha (falecida); Euclydes Oswaldo Aranha; Roberto T. L. Aranha; Eduardo T. L. Aranha; e Ary T. L. Aranha; e oito netos. Ele faleceu no dia 24 de novembro de 2001, aos 81 anos,no Rio de Janeiro (RJ).

Para relembrar suas ações e fazer um pequeno balanço de sua gestão, também reproduzimos importantes trechos de uma entrevista publicada três anos após ter deixado o comando de nossa entidade, em um Informe Oficial da ABQM veiculado em 1978. Com o título "O Quarto de Milha no Brasil", reproduzimos a matéria que tinha como pauta principal o seguinte tema: É evidente que a criação de uma nova raça equina implicaria na importação de maior contingente de animais para uma adaptação mais rápida ao país. As recentes restrições à importação vieram prejudicar o Quarto de Milha, principalmente quando se sabe que para as demais raças, a Área Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC- convênio entre países sul-americanos) liberou à quantidade. Assim, a quota permitida ao Quarto de Milha, além de menor, que é de origem norte-americana, está fora dos parâmetros da ALALC. Parece-nos que deveria haver uma reestruturação da matéria, liberando-se uma quota dentro dos critérios estabelecidos pela Associação Brasileira de Quarto de Milha, ainda que isso represente uma saída de divisas, mas ao mesmo tempo estaria criando novo e potente mercado. Após essa colocação, o sr. Eucydes Aranha comentou o assunto da seguinte maneira:

"Realmente, essa é a realidade. Nosso estágio de criação do Quarto de Milha no Uruguai e na Argentina não permite ainda uma seleção de reprodutores de grande qualidade. Mas, acredito que a atual diretoria (gestão Sérgio Paes de Almeida, onde era membro do Conselho Deliberativo) está trabalhando e entendimentos já estão sendo feitos. Penso que o Ministério da Agricultura e a ABQM entrarão em acordo e encontrarão uma solução para reparar as restrições feitas à nossa Associação no passado".

Sobre a presença de criadores brasileiros em outros países esclareceu: "Somos do Sul e resolvemos fazer a experiência de cruzar e de mestiçar o "Quarto de Milha" como a tradicional raça crioula, sabidamente um animal extraordinário, que vem de uma seleção semelhante pela qual passou também o Quarto de Milha nos Estados Unidos. Talvez, sejam raças paralelas. O Crioulo da América do Sul e o Quarto de Milha nos Estados Unidos".

"O Quarto de Milha teve infusão de animais puro sangue de corrida (PSI), daí a ser um animal mais evoluído".

E o mercado para o Quarto de Milha?

"É muito favorável. Basta dizer que em Minas Gerais, reduto do Mangalarga Marchador e no Rio Grande do Sul, reduto do Crioulo, quando o "Quarto de Milha entra, domina amplamente".

E no Rio Grande do Sul, quantos reprodutores existem?

"Atualmente, apenas 16.

O Quarto de Milha recebe apoio oficial?

"Sempre tivemos o apoio das autoridades oficiais. A única restrição que houve recentemente foi a da importação. Fomos os primeiros a regulamentar a importação, isto é, criar padrões de qualidade para não admitir que animais de má qualidade entrassem no país. Fizemos isso por iniciativa própria, mas estimulados pelo Ministério da Agricultura, tanto que somente um ano e meio depois é que o Ministério veio a regulamentá-la. Nesta regulamentação, em ves de premiar aqueles que trabalham com equilíbrio e senso, com nós, realmente foram muito rigorosos nos liberando apenas dez reprodutores para importar, dando até 30 a outras organizações. Talvez, porque nós realmente sejamos aquela Associação que contribuiu para maior item de importação de cavalos. Mas, o apoio oficial é total e há entusiasmo em torno da nossa entidade. A ABQM, não só pelo que já fez, mas pelo o que está fazendo, com sua diretoria atual, com inteligência e habilidade têm primado por tal, merecendo o respeito dos associados".

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Heraldo de Araújo Pessoa

Heraldo Pessoa: fundamental na fundação da ABQM

O dr. Heraldo de Araújo Pessoa dividiu seu tempo na medicina para se tornar um participante assíduo na elaboração e fundação da ABQM, dedicando-se por muitos anos para o desenvolvimento da raça Quarto de Milha, seja como diretor da entidade ou como criador.

Nascido na cidade de Salvador (BA), é pai de Haroldo de Araújo Pessoa Sobrinho, o Loly, e do dr. Marcelo Pessoa, ambos atuantes profissionais ligados à raça QM e avô de 12 netos.

Baseado em uma entrevista concedida à nossa revista em 1989, reproduzimos sua opinião daquele que se pode chamar de um amante da raça. Nesta entrevista com algumas adaptações, ele conta como iniciou a criação e já empregava algumas sugestões para o progresso do criatório quartista.

"Comecei a criar o QM em fevereiro de 1968 e em sociedade com o querido amigo Marcos R. Ferraz, comprei do saudoso e pioneiro Francisco C. Furquim Correia, de Araçatuba (SP), algumas éguas mestiças e um garanhão ¾ de nome ?Cobiçado'. Logo em seguida, no primeiro Leilão da Swift King Ranch, em 18 de maio, compramos um dos quatro animais PO levados à venda, o Cacareco Brasil. Em outubro do mesmo ano se deu a primeira viagem aos EUA, indo para a Exposição de Dallas, e adquiri em sociedade com Guilherme Ferraz 25 animais PO, sendo 15 éguas do 6666 Ranch, de Lubock, e os garanhões Double Bull e Hijos Flash, além do Hondo Ranchero, do Callan Ranch, e criação do King Ranch (Kingsville, Tx.). Durante a minha estada em Dallas, visitei a sede da AQHA, em Amarillo, e tive o prazer de conhecer o então Secretario Executivo, Don Jones, que havia morado no Brasil como dirigente do frigorífico Wilson. Aproveitei, então, e solicitei a sua ajuda para a fundação da nossa ABQM. Na ocasião de meu retorno dos EUA, procurei os criadores de QM que consegui localizar, todos no Estado de São Paulo, e contei a eles minha conversa com Don Jones e já propus a criação da associação, e já criando um congraçamento, especialmente com a liderança da figura impar do dr. José Eugênio de Rezende Barbosa e mais os entusiastas Antonio Carlos Quartim Barbosa, Ruy Assumpção (pai), Roberto Reichert e Francisco Jacinto da Silveira.

Nesse período aproveitamos e mudamos o nome da nossa criação, passando a se chamar Bauru Haras. Um ano depois, em março de 1969, apresentamos alguns animais durante a exposição de Bauru (SP), com a participação de companheiros de Presidente Prudente (SP), entre eles o inesquecível Francisco de Souza Medeiros (Coronel Chico), com quem também falei da ideia de fundar uma associação. Ainda naquele ano, a pedido meu, o Don Jones nos enviou o Bill Verdugo para julgar a Exposição em nossa capital, que veio acompanhado pelo veterinário Joe Giambroni. Assim, durante aquele evento, no dia 15 de agosto de 1969, fundamos oficialmente a ABQM, que já funcionava informalmente, desde alguns meses. Na verdade, já estávamos com os estatutos prontos e com o Regulamento de Registro Genealógico.

Eu residia em Bauru, fui escolhido como Secretário e, por insistência de vários criadores, a sede da ABQM também ficou em Bauru, devido à acessibilidade da cidade. Durante os dois períodos presidenciais do dr. José Eugênio (1969;1973) e a subsequente gestão do dr. Euclydes Aranha (1975-1977), fui mantido como Secretário. Durante essas administrações, o Serviço de Registro Genealógico foi informatizado e iniciado um processo de microfilmagem dos certificados de registro, além de se regulamentadas várias provas e competições. E, principalmente, conseguimos o reconhecimento do nosso Registro Genealógico pelo Ministério da Agricultura. Na administração Érico Braga, fui outra vez Secretario e Diretor Internacional (1990-1991), comparecendo à Convenção da AQHA com o dr. Jarbas Bertolli, em Fort Worth (Tx.), e no ano seguinte, em Hilton Head Island, Nova Carolina. Pelo trabalho realizado em prol da ABQM, me foi concedido o título de Sócio Benemérito.

Desde 1977, quando da minha mudança para Salvador, desfiz a sociedade com o Guilherme Ferraz e passei a criar com os meus filhos, com o nome de fantasia, Haras Quatro Irmãos, o qual permaneceu até os dias atuais. Dos garanhões importados, sobressaíram-se Double Bull, Hondo Ranchero, Till Midnight e Second Bar. Também se destacaram várias éguas, como: Hollytop, Bar Gates, Lassie Badge, Bandits Dream, Chancada, Squaw, Miss Top Duchess, Gutriewood, Double Miss Joe e muitas outras. De nossa criação, os garanhões Anjin San, Billy Gamay, Shady Leo e inúmeras éguas, como Miss Gamay, Miss Tonta Leo, Shy San, Little Lassie, Miss China, Phantinha, Silver Gates, Miss Lassie e o primeiro cavalo PO castrado no pais, o formidável Old Hondo".

Animais históricos

Conhecendo o mundo dos cavalos que fizeram a história da raça Quarto de Milha, recapitulamos trechos de destacadas matérias publicadas em várias edições da Revista Quarto de Milha, com algumas adaptações, contando um pouco da história desde a chegada de Caracolito ao Brasil e de Dash For Cash Jr, este contada pelo saudoso Vicente Mola Neto, um dos mais entendidos turfistas brasileiros. Já em relação às Líderes de Estatísticas de Trabalho, tivemos a gentil colaboração do criador Francisco Bertolani.

Caracolito: o primeiro cavalo registrado na ABQM

O dia 19 de fevereiro de 1970 ficou marcado na história da raça Quarto de Milha. Foi quando o cavalo trazido dos EUA pela Cia. Swift King Ranch Brasil S/A, foi registrado pela ABQM, tornando-se o primeiro de um número que hoje ultrapassa a marca de 308 mil. Filho de Caracol e La Calavaza (Wimpy - o primeiro animal registrado pela AQHA). Esse alazão tostado veio a falecer em 17 de setembro de 1974, com 17 anos. Segundo informações de Joaquim Soares Neto, o Zezo, gerente geral da King Ranch no Brasil, em entrevista à revista QM em matéria publicada em 1993, conta que tinha apenas 17 anos na época e viu desembarcar os primeiros animais.

"O desembarque foi na Fazenda Laranja Doce, em 1953. Eles vieram de São Paulo por via ferroviária. Tinha a impressão que iria buscar o cavalo do Roy Rogers. Havia chegado a nossa vez. Iríamos virar bandidos ou mocinhos, brincou ele. Quando as portas do trem se abriram e os peões viram aquelas sete éguas e o garanhão Saltilo Jr., ficaram impressionados coma musculatura dos animais. Com eles vieram também 372 cabeças de gado Santa Gertrudis. Os cavalos foram puxados com dois cabos de cabrestos, escoltados um a um por dois peões de cada lado do animal. Para nós, eles pareciam deuses. Não sabíamos direito como puxá-los. Sentíamos uma mistura de medo e respeito pelos cavalos. O primeiro cavalo que desembarcou no Brasil foi o Saltilo Jr., mas o registro número foi dado ao cavalo que tinha o nome de Caracolito (foto), vencedor nos Estados Unidos de três prêmios como Grandes Campeão, dois reservados Campeonatos e além de 22 vezes obtendo o primeiro prêmio".

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Dash For Cash Jr: o 1º tríplice coroado do Brasil

"Em 1980 chegava ao Brasil, importada pelo criador paulista Samir Jubran, a reprodutora norte-americana Smooth Leda (Jet Smooth) trazendo ao pé um produto macho e alazão, nascido no dia 9 de abril de 1979, filho do extraordinário campeão e produtor de inúmeros campeões Dash For Cash e quem em homenagem ao pai recebeu o título de Júnior, acrescentado ao seu nome de registro no Stud Book da ABQM.

Smooth Leda trazia além do potro alazão ao pé, prenhes do reprodutor PSI Master Hand - SI 105. Precisamente no dia 18 de abril de 1981, estreava no hipódromo de Avaré (SP) e somente com vinte e quatro meses de idade o alazão Dash For Cash Jr, enfrentando animais então mais aguerridos e com maior número de dias vividos, que o fizeram sucumbir nos 320 metros daquela prova. Trinta dias após, ele reapareceu e mais preparado levou seus adversários de ?roldão', marcando sua primeira vitória nas pistas. Nos dois anos que se seguiram, sua campanha nas pistas de Avaré (SP), Ribeirão Preto (SP) e Carazinho (RS), formou o cartel de um autêntico e incontestável campeão que a cada apresentação entusiasmava a todos com sua garra de gladiador indomável.

Dash For Cash Jr (foto) encerrou sua campanha nas pistas no dia 5 de junho de 1983, no hipódromo de Ribeirão Preto completando 16 apresentações das quais 12 foram vitoriosas, 2 - 2ºs e 1- 4º lugares, ornamentada com dois históricos ?recordes' de pista, um dos 365 metros (400 jardas) em Ribeirão Preto e outro nos 700 metros na pista de Carazinho, quando derrotou os mais velozes animais da raça PSI, em distância até então considerada impossível de ser abordada por um animal Quarto de Milha e deixando surpresos os turfistas do Sul do país. Nesse ínterim, Dash For Cash Jr, havia conquistado com suas vitórias um título até então inédito no Brasil, o da Tríplice Coroa em 1981, vencendo os Grandes Prêmios: Brasil (365 metros), Derby Nacional (402 metros) e C.C.C.C.N. (503 metros). Por incrível que pareça, foi no mesmo ano em que pela primeira vez nos Estados Unidos surgia também o seu primeiro tríplice coroado Quarto de Milha, o também extraordinário campeão Special Effort. Entre as vitórias clássicas de Dash For Cash Jr figuram ainda os não menos tradicionais Grandes Prêmios Jóquei Clube de Ribeirão Preto, Rei da Velocidade e São Paulo, neste último registrando o recorde dos 365 metros em Ribeirão Preto e elevando o seu Índice de Velocidade para 111, sendo o AAAT com maior pontuação até aquela época.

A despeito de haver servido algumas éguas na temporada de 1982, foi definitivamente incorporado ao criatório nacional em 1983, passando a ser o reprodutor principal do Haras Fazenda Campo Alegre, de propriedade do criador Samir Jubran.

Na reprodução, Dash For Cash Jr consagrou-se definitivamente como exemplar extraordinário, servindo éguas dos mais diversos criadores e produzindo elevado número de ganhadores clássicos. Embora desaparecido em 12 de janeiro de 1991, se tornou penta­campeão de Estatísticas de Reprodutores, sendo pai de inú­meros ganhadores clássicos, entre eles: Gea Moon; Dashinlight PK; Lady Dash HJS; Go Dash; Wild Dash SLN; Special Dash; Dash Sand; Dash Dancer; Dash For Feature; Tobenumberone PK; Last Lady Dash; Nikko Dash AS; First Gray Dash; Hip Deck; Fidash; etc. Eleito melhor reprodutor de 1994 nas Estatísticas da ABQM.. Como avô materno destacam-se: Hiper Deck; Massive Attack; e Ease Ket, entre outros".

Bianca EB 33: a máquina de produzir craques no Trabalho

Francisco Bertolani, criador da raça QM em Agudos (SP), desde 1981, relata com emoção uma resumida história sobre a vida da craque da reprodução, a ½ sangue mestiça Bianca EB 33 (foto) (Trouble Two Times x Zambia 43). Alazã de sua propriedade e da criação do bauruense Érico de Oliveira Braga.

"Essa égua foi adquirida quando ainda potra por troca de ração. A Cia. Agro Florestal Monte Alegre, onde eu era o engenheiro executivo, fabricava ração e trocou alguns animais por ração, sendo que o criador procurava criar animais puros e de linhagem de corrida, desfazendo-se dos mestiços e de trabalho. Como a Bianca tinha problemas de paleta, foi para a reprodução. Na época, estávamos investindo em garanhões de trabalho. Cruzamos ela por varias vezes com Shady Leo (Miss Tonta Leo x Shady Apollo Bars), que nessa época era ainda um garanhão pouco utilizado, de propriedade do dr. Márcio Tolentino, e também com Tucupi SKR. Ela produziu muitos campeões, quase todos conquistaram o título do Potro do Futuro, entre eles: Cromita MA 10, Kromita Comka 2F, Idisch 2F e Filito 2F.

A Bianca tem 31 anos e ainda se encontra viva no Haras 2F, em Agudos (SP), com baia e pasto exclusivo, digno para uma celebridade. Mesmo com essa idade avançada, ainda está gozando de boa saúde. Uma de suas características principais é de criar animais grandes e fortes, o que motivou algumas crias morrerem durante o parto. Com a aceitação da TE pela ABQM, lhe garantiu que pudesse ter suas crias normalmente. Interessante que a abqm não queria abrir exceção para animais mestiços no programa de TE. Provamos a perda de várias crias e justificamos que a melhor égua do Ranking da ABQM, deveria ter essa prerrogativa pelas duas razões apresentadas. Então, a ABQM cedeu pela lógica da justificativa e, com isso, a Bianca foi produtiva até os 28 anos de idade".

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Cromita: a super craque de Baliza e Tambor

Sobre a alazã Cromita MA 10 (foto), Bertolani conta que essa mestiça ¾ de sangue, filha de Shady Leo e Bianca EB, foi criada pela Cia Agro Florestal M Alegre e pertencia a Wilson Vitório Dosso e Paulo Sérgio Zapparolli Dedemo, vindo a desaparecer em 13 de janeiro de 2010. Ela trás em seu insuperável cartel os seguintes títulos pela ABQM: Registro de Mérito das classes Aberta, Amador e Jovem; além de ser Superior em Seis Balizas e Três Tambores (Aberta, Amador e Jovem); e em Cinco Tambores (Aberta), totalizando 734,5 pontos.

"Essa égua tem uma história interessante. Foi a primeira potra da Bianca EB33, nascida na Cia Agro Florestal Monte Alegre, em Agudos (SP), daí a marca MA e a décima cria da Empresa. Nasceu forte e esperta, porém tinha um defeito congênito, sua mão direita tinha um desvio para dentro. Levemente torta. Na época meu gerente do haras, era o famoso Marcos Toledo, que na sua sensibilidade e alto conhecimento equestre, me pediu para descartar a potra, devido ao desvio da mão. Entretanto, ela era forte já de pequena e tinha um olhar diferente. O que me encantava, apesar da razão do ?mestre' Marcos. Começamos a treinar os produtos da geração para o Potro do Futuro, que seria em Brasília (DF). Então, levamos para lá quatro animais, respectivamente, a Cromita MA 10, domada pelo Marcos e treinada pelo seu filho Sergio Toledo; a Cristal MA 12, com o Marcos Toledo, o Cromo MA 09 e a Happy Hill MA 13, com o meu filho Franco Bertolani. A Cromita venceu os dois Potros do Futuro de Três Tambores e de Seis Balizas, Franco venceu na Rédeas, terceiro em Três Tambores e quarto em Seis Balizas e o Marcos, com o segundo lugar em Três Tambores e também em Seis Balizas. Após esse evento, a Cromita MA10 desenvolveu mais e passou a ser campeã em quase todos os eventos. O Franco passou a montá-la e venceu mais de 150 provas e ficou cerca de 50 em segundo lugar. Em Cinco Tambores também fez marcas fortes. Quando anunciavam o nome de Cromita, todos se aproximavam da pista para ver seu desempenho.

Em 1989, o Franco Bertolani foi para os EUA para treinamento de Rédeas com Doug Milholland. Ai essa égua foi vendida para o saudoso Zé Pra Frente, de Fernandópolis (SP). Ele condicionou a compra do animal desde que eu emprestasse o Sergio Toledo para ensiná-lo a montar a égua. E a primeira coisa que fez foi tentar endireitar a tortura da pata dianteira. A égua mancou e ele me ligou. Então falei! Não invente moda, deixe a égua do jeito que está ferrada. Ele me escutou e foi campeão muitas vezes, assim como seu auxiliar e sua filha. Outra curiosidade, o Zé Pra Frente não acreditava que a égua corria por si. Cansou de perguntar para o Sergio Toledo qual a química que era dada. Somente se convenceu que nada havia, quando passou a vencer as provas que competia.

Foi, sem dúvida, a melhor cria da Bianca, projetando-a como a número 1 da ABQM, disparada".

Fotos: Arquivo ABQM e Cedidas

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