Entenda a Fisiologia do Exercício

A Fisiologia do Exercício é a parte da Biologia que investiga as funções orgânicas e processos vitais envolvidos no esforço físico. Estritamente falando, busca entender o que é o esforço, seu custo para o organismo, como os estímulos atuam no organismo do cavalo e de que forma este responde para acomodar esses estímulos.

Entenda a Fisiologia do Exercício

A Fisiologia do Exercício é a parte da Biologia que investiga as funções orgânicas e processos vitais envolvidos no esforço físico. Estritamente falando, busca entender o que é o esforço, seu custo para o organismo, como os estímulos atuam no organismo do cavalo e de que forma este responde para acomodar esses estímulos.

O cavalo Quarto de Milha é um atleta que desenvolve a chamada velocidade pura, ou seja, esforço máximo num período curtíssimo de tempo ? entendendo como período curtíssimo de tempo algo entre 5 e 20 segundos. Para que possa desenvolver esse tipo de velocidade, necessita de uma estrutura forte e resistente, coordenação neuro­muscular aprimorada, excepcional potência e um tipo especial de suporte energético.

Estrutura forte e resistente significa ossos, tendões, ligamentos e cartilagem engrossados e fortificados para exercer força contra o chão e suportar os requerimentos que vai encontrar num exercício de alta velocidade ou numa corrida ? impacto, vibração, tensão, deformação; coordenação neuromuscular é a capacidade de integrar a ação dos diversos grupos musculares na realização de uma seqüência de movimentos com um máximo de eficiência e economia energética; potência é a capacidade desses músculos, integrados, executarem movimentos muito rápidos numa alta taxa de repetição.

No entanto, a manutenção da potência depende de suprimento energético para alimentar as células musculares em trabalho, ou seja, o aumento da capacidade das células musculares de estocarem energia e do desenvolvimento adequado do sistema cardio-vascular que tem por objetivo habilitar o coração a bombear maior volume de sangue com mais força, bem como desenvolver a rede capilar, permitindo a vazão do volume bombeado e maior e melhor alimentação sangüínea de todos os sistemas e estruturas em ação, possibilitando maior disponibilidade de combustíveis, remoção de detritos metabólicos (gás carbônico, uréia, células mortas ou fragmentos de células, etc.), transporte de oxigênio, hormônios, água, aminoácidos, etc.

 

Já são conhecidos cerca de seis tipos de fibras musculares

 Os músculos são formados por fibras que são formadas por células musculares. Atualmente, já são conhecidos cerca de seis tipos de fibras musculares. Há fibras de contração rápida, fibras de contração lenta e as chamadas fibras intermediárias, que na verdade são variações das anteriores e se distinguem mais pelo tipo de sistema energético que utilizam; o que acaba por determinar o ritmo de suas contrações.

Essas fibras vão requerer abastecimento de combustível fornecido por um ou mais dos sistemas de produção de energia de que o corpo do cavalo dispõe.

O corpo do cavalo tem três caminhos principais para ressin­tetizar a Adenosina Tri­fos­fato (ATP), a única fonte de energia que pode ser usada como combustível direto para a contração muscular:

1. Por intermédio da quebra dos estoques limitados de fosfato creatina - 5 a 20 segundos.

2. Através da quebra do glicogênio muscular e subseqüente conversão de glicose (açúcar) - fosfato para lactato (glicólise ? etapa inicial do processo de quebra da glicose com produção de energia na forma de moléculas de ATP ? via mitocôndrias) ? 20 segundos a 3 minutos.

3. Pela oxidação de carboidratos e gordura, com uma pequena contribuição de proteínas ? acima de 10 minutos.

Na verdade, todos os tipos de fibras estão ativos em todos os exercícios. O tipo do exercício vai determinar o recrutamento preferencial das fibras musculares e, por conseqüência, a dinâmica de abastecimento de combustível. Trabalhos lentos recrutam, preferencialmente, fibras de contração lenta e trabalhos rápidos, recrutam preferencialmente, fibras de contração rápida.

Quando o treinamento é, principalmente, fundamentado no trote, o organismo vai convocar, preferencialmente, células musculares de contração lenta e utilizar mais o glicogênio como matéria prima para síntese de combustível, assim como seus ossos, cartilagem, tendões e ligamentos e aprenderão a absorver determinado tipo de concussão, deformação e estiramento, respectivamente. Em outras palavras, o organismo estará con­di­cionando mais as fibras de contração lenta e se adaptando àquele tipo de exercício, seja estruturalmente, muscularmente e energeti­camente. Então, no que diz respeito aos requerimentos para o trote, o condicionamento ao trote está Ok.


 

Explosão e aceleração do Quarto de Milha

 Entretanto, a explosão e aceleração do Quarto de Milha são realizadas ao galope que requerem fibras de contração rápida altamente condicionadas e suprimento extra de fosfatos de alta energia ? Sistema do Fosfato Creatina principalmente, mas não inteiramente.

Quanto maior a intensidade do esforço mais rápido o esgotamento do combustível das células musculares e, quanto menor o nível de condicionamento, menores os estoques de combustível disponíveis para as contrações musculares.

Quando as partidas começam, os problemas aparecem. Aquela ossatura estava condicionada para os impactos do trote e os eventuais trabalhos de galope não foram suficientes para prepará-la para o que vai ter de encarar: os tiros são a galope e velozes; da mesma forma, as fibras musculares mobilizadas e utilizadas no trote não são as que serão preferencialmente solicitadas no galope e estas, também não foram devidamente condicionadas à solicitação e tensão das partidas e os sistemas energéticos que davam suporte às fibras musculares ao trote não produzem o tipo e nível de energia necessária para o arranque, aceleração e pique de velocidade de um exercício intenso ou de uma corrida.

Outro aspecto pouco considerado é a harmonização mecânica dos músculos do aparelho locomotor do cavalo. Há os músculos que são diretamente responsáveis pelo movimento de avançar e correr, os agonistas, e há os músculos que limitam a distensão dos agonistas visando a sua integridade e do organismo, os chamados antagonistas.

Ao trote tanto a solicitação dos agonistas quanto dos antagonistas, no que diz respeito às demandas de um exercício intenso ou de uma corrida, não estão, de modo algum, sensibilizando-os e condicionando-os, nem criando uma ação equilibrada entre eles. Por ação equilibrada, entenda-se tonificação dos agonistas e flexibilização dos antagonistas, objetivando a diminuição da ação limitante dos antagonistas ao movimento de corrida e, conseqüentemente, maior rendimento muscular.

Esse regime de condicionamento predispõe os cavalos atletas a distensões e ou rompimentos de fibras musculares, músculos, tendões e ligamentos; fissuras e fraturas dos ossos longos, ossos dos joelhos e dos boletos; esmagamento da cartilagem que recobre as terminações dos ossos, sem falar das lascas dos ossos arrancadas de onde os tendões se inserem, em função da magnitude da força colocada nessas estruturas durante a largada e a aceleração.

 Decolagem da taxa cardíaca

 Entre a largada, aceleração e alcance de velocidade máxima, a taxa cardíaca decola de 40 bat/min ao repouso até cerca de 190 bat/min (em cavalos altamente condicionados dispara de 33 bat/min para até 225/230/bat/min), o que eleva tremendamente a pressão sangüínea. Somando-se à propagação das ondas de choque que viajam através dos membros anteriores provenientes do impacto repetitivo e brutal contra o solo e que são transferidas pela caixa torácica aos pulmões, a probabilidade e freqüência de hemorragia pulmonar aumentam exponencialmente.

Isso acontece devido ao desenvolvimento insuficiente do sistema vascular ? ramificação e elasticidade dos vasos e capilares - que dê vazão ao tremendo volume de sangue repentinamente requerido e bombeado ? colapso dos vasos sangüíneos que estouram devido ao volume e pressão com que têm que lidar bem como pela ruptura desses vasos devido à vibração.

Gostaria de estar lembrando que o coração e o diafragma são músculos também e que, apesar de serem controlados pelo Sistema Nervoso Central, independente da vontade do animal, necessitam de condicionamento apropriado seja pelo papel que desempenham no exercício ou pela integridade do animal.

A dor tem uma interferência significativa na performance de um cavalo de corrida, pelo simples fato de que a sua percepção pelo organismo é anterior à da consciência do animal. Quando um cavalo está correndo, todo seu corpo está sendo monitorado pelo Sistema Nervoso Central através de proprioceptores, pequenos eletrodos que captam os sinais da atividade dos tecidos e fluidos do organismo.

A leitura desses proprioceptores é feita pelo Sistema Nervoso Periférico que, através de compostos químicos sinalizadores, os neurotransmis­sores, comunica ao Sistema Nervoso Central as condições de funcionamento e integridade dos diversos sistemas do corpo do cavalo.

Se há problemas ou danos, o Sistema Nervoso Central que reage prontamente, desencadeando uma cascata química ? via outros neurotrans­missores ? para direcionamento de células, enzimas, produção de hormônios, proteínas, etc., para aliviar a dor, reparar o tecido doente ou, percebendo situação de risco para o organismo ?desligar? tudo o que não for essencial ? a musculatura esquelética é das primeiras a sofrerem um ?shut down?, o ritmo das contrações musculares despenca! Apesar da boa vontade do cavalo a sua velocidade vai diminuir.

 A dor interfere no rendimento muscular

 O cavalo, quando sente a dor, alivia o membro dolorido jogando o peso para o membro oposto sobrecarregando-o, se corrigido ou instigado pelo chicote pode correr em diagonal o que e o tira da linha de corrida, ambas as situações prejudicam a eficiência mecânica; dores nas costas comprometem a mecânica dos membros, ainda, a dor interfere e muito com o rendimento muscular ? músculos doloridos tendem a ser tensos, rendem muito menos e gastam mais energia. A dor também interfere na produção cardíaca, comprometendo o suprimento sangüíneo e, por conseqüência, o fornecimento de combustível à musculatura em trabalho, sua refrigeração e a oxigenação do tecido muscular (mais dor).

A execução de um exercício exige o ajustamento de numerosas funções orgânicas, cuja solicitação depende da intensidade, duração e freqüência do exercício e das características específicas da atividade praticada, no caso a corrida de velocidade. O treinamento tem por objetivo a adaptação dos aparelhos e sistemas solicitados por um exercício. A adaptação afeta apenas os aparelhos e sistemas suficientemente solicitados.

*Elizabeth Barros é treinadora de cavalos de Corrida

e-mail: adamakion@uol.com.br

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