Lesões do ligamento suspensor
Note o extremo esforço dos membros anteriores e posteriores a que o animal é submetido
Note o extremo esforço dos membros anteriores e posteriores a que o animal é submetido
Apesar de ser uma afecção bastante freqüente em cavalos de esporte, a desmite do ligamento suspensor do boleto ainda parece ser pouco compreendida pela maioria das pessoas que trabalham com esses animais
Por: dr. Reinaldo de Campos e dra. Fernanda Manzano de Campos*
Trata-se de uma inflamação - com ruptura de fibras ou não - do ligamento suspensor do boleto, também chamado de músculo interósseo ou conheci-do popularmente por ?entrecordas?. O ligamento suspensor do boleto nada mais é que uma faixa tendínea forte que contém várias porções de tecido muscular.
O suspensor se origina no ligamento cárpico palmar e na superfície palmar e proximal do osso metacarpiano principal (nos membros anteriores) e também no metatarsiano principal (nos membros posteriores), descendo através do 2º e 4º ossos metacárpicos acessórios, dividindo-se em dois ramos que irão se inserir nos ossos sesamóides proximais (atrás do boleto).
Há estudos que demonstram a porcentagem de músculo em cada região do ligamento suspensor. Em um deles, constata-se que cavalos Standardbred americanos (cavalos de trote) apresentam 40% mais músculo no ligamento suspensor do que eqüinos da raça Puro Sangue Inglês. Assim, sugere-se que isso possa estar associado com diferenças biomecânicas no andamento entre as duas raças ou a fatores genéticos.
As lesões do ligamento suspensor do boleto podem ser divididas em três áreas: lesões no terço proximal (logo abaixo do joelho e por trás), lesões no terço médio (lesões no corpo) e lesões nos ramos (medial ou lateral), logo acima dos ossos sesamóides proximais.
Lesões no terço proximal
Podem ocorrer em ambos os membros, anterior e posterior, e pode ser diagnosticada pelo exame clínico e ultra-sonografia.
Em um cavalo normal o ligamento suspensor do boleto é bilateralmente simétrico, ou seja, o seu tamanho nos dois membros, esquerdo e direito, são iguais. Portanto, durante o exame clínico é imprescindível a comparação deles através da palpação.
As lesões mais freqüentemente encontradas ultra-sonograficamente são: aumento de volume da estrutura do ligamento e presença de ruptura de fibras do tendão. Quanto maior a área da lesão e mais proximal (mais alta) pior o seu prognóstico para o tratamento. Isso só poderá ser avaliado com o auxílio do ultra-som.
Lesões distais, ou seja, lesões nos ramos, proximais aos ossos sesamóides, tendem a ter um prognóstico mais reservado para o tratamento quando comparadas àquelas no corpo (centro do ligamento)
O prognóstico de desmite (inflamação) do ligamento suspensor do membro posterior é muito mais reservado que no membro anterior.
O tratamento inclui repouso em baia, exercícios controlados, antiinflamatórios não esteroidais e injeção local de corticóides. Outros tratamentos mais recentes incluem injeção de medula óssea (células tronco) na região e tratamento por ondas de choque.
Lesões do terço médio do ligamento (região do corpo)
Exame Clínico do ligamento suspensor
Exame ultra-sonográfico do ligamento afetado
Nessa região, a claudicação geralmente é menos evidente do que na porção proximal do ligamento, embora haja aumento de temperatura (calor), dor e inchaço no local. Normalmente, as lesões no corpo tendem a ser mais comuns nos membros anteriores. No entanto, há uma incidência relativamente alta de reincidência da desmite do suspensor mesmo após longos períodos de repouso, e isso está associado à cicatrização incompleta do ligamento.
A persistência das alterações ultra-sonográficas das lesões no ligamento suspensor do boleto são maiores do que aquelas encontradas nos tendões, o que vale lembrar que um determinado animal pode não demonstrar claudicação nem dor e apresentar as lesões no ultra-som.
As lesões no corpo do ligamento podem também ocorrer devido à fratura dos ossos metacarpianos ou metatarsianos acessórios, ou mesmo a formação de ?exostoses? (sobreossos).
Desmite dos ramos do ligamento suspensor
Exame radiográfico dos ossos metacarpianos acessórios
Também podem ocorrer nos membros anteriores e posteriores. Geralmente, existe um espessamento palpável do ramo afetado, com um grau variável de inchaço de tecido mole e calor localizado. Haverá também dor localizada à palpação dos ramos do ligamento ou sobre o ápice dos ossos sesamóides proximais.
Algumas vezes, a palpação da região é dificultada devido à ocorrência de efusão (aumento de líquido) da bainha do tendão flexor digital ou mesmo da articulação do boleto.
É sempre recomendado o exame radiológico para se averiguar possível comprometimento dos ossos sesamóides (sesamoidite ? inflamação e/ou fratura), o que irá piorar o prognóstico.
O tratamento é similar ao empregado nas lesões no corpo, porém, os prognósticos para a cura são piores. O período de recuperação varia em média de 3 a 12 meses, dependendo da gravidade da lesão. Exames ultra-sonográficos irão determinar o prognóstico e o tempo de repouso da cada caso em particular.
Tratamento
O tratamento para os três tipos de lesão consiste em, primeiramente reduzir a inflamação pela administração de antiinflamatórios não esteroidais, corticóides local ou sistêmico, hidroterapia e exercício controlado. Equilibrar os cascos, ferraduras corretivas, observar a conformação do eqüino (quartelas longas, pinças longas e hiperextensão dos boletos, que podem predispor a lesão do ligamento do boleto. O tratamento depende da utilização do animal, da raça, da severidade dos sinais clínicos e das anormalidades ultra-sonográficas.
Pode-se fazer uso da fisioterapia com laser e campo magnético, terapia com ondas de choque, termocauterização com "ponta de fogo" associada ao repouso, terapia com calor e frio (gelo), infiltração com células tronco ou infiltração local com iodo 2% 4 6 ml.
Exames ultra-sonográficos periódicos (a cada 30 dias) são fundamentais para o controle do restabelecimento da lesão e, juntamente com a avaliação clínica, irá estabelecer o tempo de retorno do animal às atividades atléticas.
*Dr. Reinaldo e Dra. Fernanda Manzano de Campos são médicos veterinários doCenter ? Centro de Diagnóstico e Terapia Eqüina - Jockey Club de São Paulo - GR.39. Informações: (11) 3032-1155 e (11) 9937-1349.
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