O doping em cavalos e seus efeitos tóxicos
Acompanhe o trabalho realizado pela equipe veterinária responsável pelos exames antidoping, realizados no Campeonato Nacional e Potro do Futuro da ABQM e as substâncias proibidas
Acompanhe o trabalho realizado pela equipe veterinária responsável pelos exames antidoping, realizados no Campeonato Nacional e Potro do Futuro da ABQM e as substâncias proibidas
A Equipe veterinária (da esq.): Rafael Azevedo (estagiário), dr. Rodrigo Rossi, dr. Hélio Itapema e Kleiton Oliveira (estagiário)
Durante o Campeonato Nacional e Potro do Futuro 2004 da raça Quarto de Milha, foram realizados alguns exames antidoping em cavalos que participaram das provas em Avaré (SP). Durante a coleta de material, várias pessoas se aproximavam da equipe responsável, para tirar algumas dúvidas, principalmente relacionadas a quais medicamentos são detectados no exame.Nesta matéria, discutiremos alguns tópicos relacionados ao doping em cavalos atletas, para que o clínico veterinário, assim como todos aqueles que estão estreitamente relacionados ao cavalo (tratadores, treinadores e proprietários), tenham a noção de que muitos dos fármacos utilizados em seu dia a dia são considerados como tendo efeito dopante, não podendo desta forma serem utilizados nos dias próximos às provas.
Ainda faremos referência dos principais fármacos detectados no exame anti-doping, lembrando sempre que os laboratórios conveniados sempre se atualizam para englobar o maior número de medicamentos utilizados.Doping é a administração de qualquer substância em cavalos que possa modificar sua performance durante uma prova desportiva.No início, a coleta de exame antidoping se restringia a substâncias do tipo narcótico, logo depois surgiram as anfeteminas e outros compostos simpatominéticos, seguidos da utilização de anestésicos locais. Atualmente, são verificados a utilização de antiinflamatórios esteróides ou não e esteróides anabolizantes.
Preparação do reservatório para coleta de urina
Após a coleta feita é entregue para os veterinários
A seguir é realizada a coleta de sangue
O sangue sendo colocado em um frasco
O frasco é lacrado pelo veterinário
Frascos lacrados para envio ao laboratário: um para prova e outro para contra-prova
O propritário ou responsável pelo cavalo assina o documento após a lacração do frasco.
O doping é considerada uma prática não aconselhável. Isso por que:
1 - É uma prática desonesta pois, teoricamente todos os animais devem correr em condições de igualdade, vencendo os melhores, ou os mais preparados.
2 - A administração de substância dopante pode causar danos a animais, sendo que alguns são irreversíveis inclusive.
3 - Pode interferir no processo de seleção, escolhendo-se, não os melhores para a reprodução, e sim os ganhadores.No entanto, o que faremos com os que precisam ser tratados e participam de provas desportivas????Aconselho que eles sejam tratados fora do período de provas e caso coincide, procurar o veterinário responsável pelo evento, pois ele decidirá se o cavalo tem condições de participar da prova, assim como o tratamento indicado para cada afecção.Atualmente o número de fármacos considerados dopantes ultrapassam os 5000, sendo que os testes antidoping atuais possuem grande sensibilidade, conseguindo detectar concentrações mínimas de fármacos e seus resíduos.Esta sensibilidade coloca o clínico em difícil situação, pois tem que saber o tempo correto de administrar determinada droga e quando encerrar sua utilização, para que durante a prova desportiva, o mesmo não apresente resíduos desta droga no sangue ou urina.Todos os países realizam o exame antidoping, sendo que em alguns como os Estados Unidos, acreditam que o sofrimento de cavalos de esporte pode ser atenuado com a utilização de algumas drogas, enquanto em toda a Europa, o cavalo deve competir com suas próprias condições, não se admitindo o uso de nenhum tipo dessas substâncias.
SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS:
Os grupos específicos de substâncias proibidas são capazes de agir em um ou mais dos sistemas corpóreos dos mamíferos:
1. sistema nervoso 2. sistema cardiovascular 3. sistema respiratório 4. sistema digestivo (excetuando-se substâncias para tratamento oral de úlceras gástricas) 5. sistema urinário 6. sistema reprodutivo 7. sistema músculo esquelético 8. pele (exemplo de agentes hiper-sensibilizantes) 9. sistema sangüíneo 10. sistema imunológico ( excetuando-se vacinas) 11. sistema endocrinológico: a) Antipiréticos , analgésicos e substâncias antiinflamatórias. b)Substâncias endócrinas. c) Agentes que mascaram.
ALGUNS EXEMPLOS DE SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS
Substâncias que aumentam a performance:
1.1) BASES XANTICAS ? Cafeína, Teofilina, Teobromina.Tem efeitos cardiovasculares, broncodilatadores, nervoso e renais.
1.2) OPIÓIDES ? Pentazocina, Butorfanol.Atuam como potentes analgésicos.
1.3) ESTERÓIDES ANABÓLICOS ? NandrolonaSão derivados sintéticos da testosterona, possuindo ação anabólica (capacidade de produzir uma retenção positiva de azoto). Esta substância tem sido altamente utilizada em animais em treinamento.
1.4) ANFETAMINASAtuam no sistema nervoso central, liberando toda a nora-drenalina cerebral (hormônios), e atrasam o aparecimento da fadiga.
1.5) ANTIHISTAMÍNICOS ? Difenidramina, Pirilamina.São utilizados para bloquear a ação da histamina. Inibem a contração da musculatura lisa brônquica e intestinal. Normalmente eles deprimem o sistema nervoso central, causando sonolência e provocando taquicardia.
1.6) ANESTÉSICOS LOCAIS ? Xilocaína, Lidocaína, Procaína.Os anestésicos locais são amplamente utilizados de forma subcutânea, para anestesiar feixes nervosos e assim dessensibilizar determinada área de interesse
1.7) ANALGÉSICOS ANTIINFLAMATÓRIOS NÃO ESTERÓIDES ? Fenilbutazona, Dipirona, AAS, Flunixin Meglumine.São provavelmente as drogas mais utilizadas em cavalos de esporte graças a suas propriedades antiinflamatória, analgésica e antipirética.Os antiinflamatórios não esteróides devem ser utilizados, em doses seguras, quando exista uma indicação clínica clara para o fazer.
1.8) CORTICOSTERÓIDES ? Hidrocortisona, Prednisolona, Dexametasona.Em cavalos de esporte, é comum o aparecimento de doenças articulares, e este tipo de medicamento é comumente utilizado no tratamento, apesar de seus efeitos colaterais.
1.9) DIURÉTICOS ? FurosemidaDe todos os diuréticos, esta é a mais utilizada, pois provoca uma maior excreção de urina deixando o animal com uma hemoconcentração aumentada.Pode ser utilizada no tratamento de animais com hemorragia pulmonar induzida por esforço.O uso desta droga tem sido discutida já que pode interferir nos testes de rotina para detecção de drogas ilícitas.
1.10) BRONCODILATADORES ? ClembuterolÉ muito utilizado no tratamento de doenças pulmonares crônicas.
1.11) MUCOLÍTICOS / EXPECTORANTES ? Guasaiafenesina, Dembrexina.São utilizados para retirar secreções da árvore respiratória. Possuem também uma ação miorrelaxante.
1.12) ANTI TUSSÍGENOS ? Dextromethorpan, ButorfanolEstas substâncias atuam diminuindo a freqüência da tosse, atuando nas terminações nervosas do trato respiratório.
1.13) VASODILATADORES ? IsoxsuprineTem papel terapêutico crucial no tratamento de doenças cardíacas aguda ou crônica. Aumentam a perfusão e oxigenação dos tecidos.
1.14) RELAXANTES MÚSCULO ESQUELÉTICOS ? Guaifenesina, Metocarbamol.Pela ação miorrelaxante, estas substâncias diminuem a dor de origem muscular.
Substâncias que diminuem a performance:
1 - TRANQÜILIZANTES / SEDATIVOSEstes tranqüilizantes provocam calma e falta de interesse pelo meio exterior, mas sem alterar os níveis de consciência
CONCLUSÃO
Atualmente os testes antidoping estão sendo largamente utilizados em todas as modalidades de esportes eqüestres, sendo que estes são cada vez mais sensíveis ao aparecimento de novas drogas no mercado.A necessidade de limitar a sensibilidade dos testes é um problema mundial que foi debatido durante workshop internacional na Universidade de Kentucky (EUA).Portanto, existe o teste antidoping, para que prevaleça a competição em condições de igualdade, sem que determinados animais tenham algum tipo de vantagem por estar correndo com a atuação de algum fármaco, assim como para manutenção da saúde do cavalo, e evitar a depreciação da raça.Além disso acrescentam que ?a razão da existência de regras não é para desencorajar uma assistência veterinária correta ao cavalo desde que ela não interfira com estes importantes objetivos?.Por isso que o médico veterinário tem cada vez mais uma responsabilidade enorme no tratamento de cavalos de competição. Ele tem que ter conhecimento do tempo de detecção dos fármacos que utiliza e discutir a terapêutica com o proprietário dos cavalos para evitar resultados positivos nos controles anti-doping.
1 Hélio Itapema e Rodrigo Rossi, médicos veterinários da Clínica de Eqüinos Itapema e Rossi, credenciados pela Federação Paulista de Hipismo, foram os responsáveis pela coleta de material antidoping no Campeonato Nacional e Potro do Futuro 2004. Outras informações: (11) 9528.1710
Fotos: Marcelo Vergílio/ABQMTexto: dr. Hélio Itapema Cardoso e dr. Rodrigo Rossi
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