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Quartistas Homenageados
Conteúdo com Anos 2014 .
Quartistas Homenageados
Quatro novos importantes quartistas são eternizados na história do Quarto de Milha. A ABQM homenageia aqueles que têm seus nomes lembrados na memória dos quartistas brasileiros, sejam eles destacados como dirigentes, criadores, proprietários ou profissionais do cavalo.
Jayme de Jesus Rodrigues
O nome de Jayme de Jesus Rodrigues com a raça Quarto de Milha é recheado de glórias e tradições. Sua trajetória de sucesso começou há cerca de 37 anos, quando era peão de comitiva e transportava boiada da região de Assis e Echaporã (SP).
Ele recorda com orgulho da época em que trabalhou no Haras 4 Irmãos, entre 1968 e 1987, quando formou a maioria de seus campeões: “Foi com muita paciência e esforço e com o apoio do dr. Heraldo Pessoa que me fornecia a parte teórica”. Ele traz na lembrança também, com muito carinho, de Cacareco Brasil, uma de suas primeiras “crias” e grande sensação das provas de Apartação e Rédeas.
Trechos da matéria publicada na Revista Quarto de Milha (Ed. 118/1997), nos remete a primeira prova de Apartação, oficializada pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), durante a Exposição de Presidente Prudente (SP), de 7 a 14 de setembro de 1977.
Nesse ano, Jayme passaria para a história da modalidade vencendo a prova com Shady Apollo Bars (Ranch Bars x Miss Shady Bars), de propriedade de Renato Eugenio Rezende Barbosa (Tô). “Além da King Ranch, o Renato foi um dos iniciadores da importação em 1965 de animais Quarto de Milha ao Brasil”, elogia.
Mostrando sua humildade, Jayme não esquece de mencionar outros importantes cavaleiros da época: “Não podemos deixar de lembrar o pioneirismo do Antônio Lucas - funcionário da Fazenda Santa Rita, em Maracaí (SP), de propriedade da família Rezende Barbosa e um dos primeiros a apresentar essa modalidade no país, amansando e domando equinos. O primeiro a ser trabalhado por ele foi Silver Maracaí, com o objetivo de divulgar a Apartação no Brasil”.
Segundo ele, em outubro de 1971 fez um estágio com Benedito Alves Moreira (Dito), no Bauru Haras, de propriedade do Dr. Heraldo Pessoa e Guilherme Ferraz, quando montou o animal Cacareco Brasil, que foi grande sensação das provas de Apartação e Rédeas.
“O Dito também foi outro companheiro que contribuiu muito para o desenvolvimento da modalidade”, enaltece Jayme.
No ano seguinte, Jayme foi contratado pelo Sr. José Eugênio de Rezende Barbosa para administrar sua propriedade, Rancho Estrela Nova, em Quintana (SP), quando teve oportunidade de treinar animais ½ sangue para baliza e tambor como Bandolim (Sock’s Sony), entre outros.
Em 1974, Jayme foi transferido para a Fazenda Torrão de Ouro de propriedade do Sr. Ricardo de Rezende Barbosa, onde domou o primeiro animal puro, Guapo, filho de Caracolito, para a modalidade de Tambor.
Um ano depois, ele foi convidado por Renato Eugênio de Rezende Barbosa para trabalhar na Fazenda Berrante, quando aprimorou sua carreira fazendo cursos com Buster Welch (1983), Linda Bush (1984) entre outros. De lá pra cá, Jayme incentivou a modalidade administrando cursos de apartação juntamente com Kenny Knoltown, por 5 anos consecutivos. Realizou cursos de doma para iniciantes, atendeu inúmeros estagiários de diversas regiões do Brasil e comercializou animais, juntamente com a Fazenda Berrante, através de leilões e intercâmbios estaduais.
Mas o grande evento da Apartação começou há surgir alguns anos depois. Foi em 1978 com a realização do I Campeonato Nacional da ABQM e Jayme Rodrigues levantou o primeiro troféu com Doc’s Gamay (Doc Bar x Candy Tivio), de Renato Eugênio Rezende Barbosa, que já começava a despontar como um dos principais criadores da raça.
Desde então, muitos animais treinados por Jayme têm se destacado nas pistas. Como Sanjay, um filho de Freckles Playboy com Miss Pepsan, que, em 1983, conquistou o Potro do Futuro da ABQM e, nos 3 anos consecutivos, venceu os campeonatos da ABQM tornando-se o único tricampeão nacional (84/85/86) pela Associação. “Além disso, o Sanjay tornou-se um Cavalo Superior em Trabalho e quando passou para a reprodução, confirmou que tinha sangue de campeão, com seus filhos vencendo as mais importantes provas do país. Entre eles: San Pozanji (mãe: Pozanji), San Made (mãe: Doc Made) e San Spook, totalizando mais de 670 pontos através de seus filhos”, informou o treinador.
Em 1990, o grupo Atalla e Jayme firmaram uma parceria de 15 anos que resultou no sucesso da Copa Makin a Play, realizada em diversas etapas na Fazenda Santa Eliza, em Brotas (SP), com o incentivo do Hand Cap para as categorias Amador e Principiante e premiação até o 5º lugar de cada categoria.
Ainda promovendo o desenvolvimento da modalidade, em meados de setembro de 2005, já em Guapé (MG), na Fazenda Santa Augusta, de propriedade de Jaime Toledo de Resende, Jayme Rodrigues contribuiu para a realização do Curso de Apartação com o treinador Graham Amos e foi reservado campeão do Super Stakes da ANCA/2006 com o animal Makin Pal de propriedade do Sr. Otávio Marques.
No Rancho Emanuel, de propriedade de Pablo Viveiros, montou Instant Bet e Lil Scoot, que foi finalista do Congresso ABQM em 2011.
Ao longo dos anos, Jayme acumulou um invejável cartel em Apartação, onde conquistou inúmeras e importantes vitórias. Destacam-se entre elas: Nove títulos de campeão do Potro do Futuro: sete pela ABQM (1981- Doc´s Gamay, 1982 - Pepita SKR, 1983 - Sanjay, 1984 - Doc Mi, 1986 - San Gay Jay, 1990 - Bingo Gamay e 2000 - Doc San Peppy) e dois pela ANCA (1989 - San Spook e 1990 – Chinoka); foi também cinco vezes reservado campeão, sendo três pela ABQM (1987 - San Pozanji, 1988 - Doc San e 1991 - Ramada Jay) e dois pela ANCA (1991 com Playboy Jay e em 1995 com Smart Lena DP).
Já no Campeonato Nacional conquistou onze troféus de campeão: 1977 - Shady Apolo Bars, 1978 - Doc´s Gamay, 1979/1980 - Catchme If You Can, 1984/1985/1986 - Sanjay, 1987 - San Pozanji, 1989 - Sparta San, 1990 - Caiaque Jay e 2000 - Makin Col JA.
Hoje, residindo no Baltazar´s Ranch de propriedade de Hélio Baltazar, em Brotas, Jayme ministra cursos, estágios, doma para diversas modalidades, venda de animais e assessoria.
Fauzet Farha
Em 1969, Fauzet Farha deu início à concretização de um sonho de menino quando adquiriu uma propriedade em Bauru, no interior de São Paulo, chamada Caruana – que segundo a linguagem indígena quer dizer: “A Deusa protetora da fauna e da flora” -. Já nesta época, Fauzet era filiado à ABQM e dava os primeiros passos em direção à criação de cavalos Quarto de Milha.
Seu sonho pouco a pouco ganhou vida, pois desde sua adolescência foi praticante de hipismo rural e dedicou-se a fundação do Clube do Laço em Bauru. Acompanhando os primeiros movimentos da raça no Brasil e mantendo contato com alguns associados da ABQM, adquiriu seus dois primeiros cavalos Quarto de Milha: Malandro e T’Bonne.
A dedicação à atividade foi aumentando e as boas notícias vindas dos Estados Unidos fizeram com que, em 1975, Fauzet importasse seis animais, dois garanhões (Wiggy Reed Bar e Second Bar Bando) e quatro fêmeas.
Em apenas dois anos, o mercado se multiplicou com a entrada de mais adeptos. Determinado a comprar animais de qualidade, Farha foi ao berço da raça buscar novos animais e importação 54 matrizes e 23 reprodutores, a maioria fruto da Spring Creek Farm, do Texas – um grande passo rumo à consolidação de seu plantel.
Embora na época a fazenda não estivesse preparada para receber todos esses animais, ele fez um bom planejamento alojando-os em baias rústicas, mas com boa estrutura, além de contratar por três meses dois profissionais norte-americanos para ensinar e orientar os funcionários da Caruana no trato dos animais, limpeza de baias, higienização, casqueamento, treinamento de baliza, tambor e laço.
A partir daí, uma nova fase marcou a Caruana e a família Farha. O cavalo envolveu a todos, desde a esposa Virgínia, os filhos Paulo, Ana Laura, Ana Paula e Ana Cláudia, além dos funcionários.
Da tropa americana, dois potrinhos se destacaram e foram selecionados para constituir a base genética do criatório. Respectivamente: Trouble Two Times e Hayward Johnny.
Na época, tanto o Paulo quanto o Claudinei Ribeiro (hoje um principais treinadores do Brasil) tinham 10 anos e a amizade deles era tão forte como irmãos. A sintonia do Paulo com o Trouble foi instantânea e essa sintonia perfeita o levou a entrar no mundo equestre.
Dócil, inteligente e habilidoso, Trouble foi a primeira e grande paixão de Paulo, considerando-o seu grande amuleto da sorte. Viajaram por quase todo o Brasil para competir, participando em várias modalidades, especialmente em Tambor e Baliza, onde se sagraram campeões nacionais e formaram um conjunto quase imbatível. Já Hayward tornou-se campeão Nacional de Laço em Dupla. Ambos fizeram história na reprodução e deram à Caruana o posto de um criatório cada vez mais qualificado, gerando inúmeros campeões em várias modalidades de Trabalho.
Pouco a pouco Trouble e Hayward mostraram que as apostas e investimentos em suas genealogias foram corretos também para a reprodução, gerando inúmeros destaques em Trabalho. Paralelamente às conquistas, o aperfeiçoamento e evolução do criatório continuaram. Em 1996, mais um grande do Quarto de Milha veio se integrar à Caruana, Shady Leo. Domado e treinado no Haras 4 Irmãos, fez sua carreira reprodutiva no plantel de Márcio Tolentino, no Haras ST. Na Caruana chegou aos 16 anos, no auge de sua vida reprodutiva e foi utilizado para cobrir as filhas de Trouble, tornando-se o garanhão mais pontuado da raça.
Em 1997, em comemoração aos 25 anos do criatório, Fauzet e Paulo realizaram o 1º Leilão Fazenda Caruana, apresentando ao mercado o resultado de todo trabalho dedicado ao aprimoramento do plantel, bem como os resultados de outros criadores convidados. Os bons negócios marcaram a primeira edição, e a superação e comprometimento em compartilhar os melhores produtos e genéticas tornaram-se a tônica dos eventos Caruana.
A partir de 2000 a Caruana conquistou os melhores resultados, nas pistas, em várias modalidades de trabalho, alcançando a liderança no ranking de criadores da ABQM, comprovando mais uma vez a qualidade da carga genética do plantel.
O empenho na criação, então, deu início a uma nova fase: a aquisição de novas linhagens, vindas dos Estados Unidos. Fauzet e Paulo estudaram a importação de animais para diferentes modalidades de trabalho e adquiriram garanhões com linhagens comprovadas, como: Hobby Top Cody, Don’t Question It, Mister Slydun Pine e Missin James. Juntamente a eles, novos nomes do Quarto de Milha brasileiro começaram a ganhar destaque, especialmente El Shady Zorrero, filho do líder de estatísticas Shady Leo.
Em 2007, mais dois eventos passaram a fazer parte da agenda Caruana: o Leilão Virtual Caruana Embriões Novos Campeões e Caruana & Cia. Já em 2008 lançaram o Leilão Virtual Caruana Futurity Champions.
De 2009 pra cá, novos garanhões vindos dos Estados Unidos, muitos adquiridos em parcerias, passaram a servir a Caruana e ao plantel brasileiro, como: Corona Cocktail, Famous Lane, Firewater Fast, Strait Fire Water, Smart Little Pistol, Cats Red Feather, My Boy Trouble, Smart Little Jerry, Sugar Cream e Junewood Gerries.
Sempre muito hospitaleiro, Fauzet conquistou ao longo desses anos muitos amigos, parceiros e clientes ampliando as suas relações no meio, ao mesmo tempo em que ele concentrava cada vez mais suas atividades no cavalo, obtendo muito êxito.
Eduardo Pacheco Borba
Para escrever sobre Eduardo Pacheco Borba, o professor da “Doma Racional”, foi extraído detalhes de inúmeras publicações em revistas, sites e opiniões de quem atuou com ele para expressar seu pensamento em relação aos cavalos.
Em uma delas, ele conta que no início de 1972 o cavalo que transformou sua vida chamava-se Hondo Ranchero. “Seu espírito, seu corpo, sua força, sua habilidade atlética me deixaram estarrecido. As respostas vinham a partir dos menores sinais! Foi uma situação arrebatadora, que me fez esquecer de tudo que vinha fazendo. Pela primeira vez senti o verdadeiro significado de que “dois poderiam ser um. A constatação daquela sensação me levou a perceber que cavalo é um individuo que pensa, sente, decide e... considera.
Estava absolutamente decidido que esse era o mundo qual queria viver. Imediatamente senti a necessidade de me orientar. Percebi também que tudo dependia de determinação. Precisava, então, fazer o meu curso de graduação. Considerei a possibilidade de ir para o Oeste norte-americano, escovando cavalos e limpando cocheiras.
Com a ajuda do Dr. Heraldo Pessoa, proprietário do Hondo Ranchero e Secretário Executivo da ABQM, organizei a viagem. Em 1975 fui para o Texas e tive o meu primeiro contato com o universo da Cultura do Cowboy. Neste período, comprei ‘sem saber’ os meus livros mais importantes: Western Equitation, Horsemanship and Showmanship, do Dwight Stewart, The Complete Training of Horse and Rider, My Horses and My Teachers, do Alois Podhajsky.
O D. Stewart dizia: “Se você acredita que tem um bom cavalo de rédeas, leve-o para Califórnia e veja se ele é bom mesmo”. Foi neste livro que vi as primeiras fotos dos californianos em ação e percebi que aqueles cavalos tinham uma escola muito diferente dos que estava vendo no Texas. Então decidi fazer um curso de pós-graduação na Califórnia.
Em 1978, convidado pelo Johnny Coachman, da ABQM, embarquei com a família rumo a Perris, CA. Meu professor vinha de uma família tradicional de califórnios. Foi com Joe Moreno Jr ou Dom Jose, como muitos o chamavam, que percebi a importância dos clássicos Podhajsky e Vladimir Littauer. O Joe me deixou absolutamente convencido a respeito da importância da Equitação Clássica na Formação da Base dos Cavalos Californianos. Trabalhar e conviver durante um ano com esse extraordinário horseman foi fundamental para a aminha Educação Equestre e principalmente para formação da minha vida.
Quando voltei para o Brasil, em parceria com a ABQM, comecei a desenvolver uma nova maneira de abordar a doma dos potros. Desenvolvemos um curso de 30 dias e demos o nome de: “Curso de Doma Racional e Apresentação do Cavalo em Pista”. Além de lidar com novas abordagens a respeito da Doma de Potros, Educação Equestre & Equitação, o aluno também entrava em contato com a apresentação do Cavalo de Conformação.
De 1978 a 1986, viajei pelo Brasil todo, usando a linguagem e a Cultura dos Califórnios como ferramenta para estimular os meus alunos. Para mim ainda não havia os irmãos Tom e Bill Dorrance e Ray Hunt, as mais altas expressões da “Educação Equestre Contemporânea”.
Quando havia gado disponível, desenvolvíamos um trabalho abordando a psicologia desses animais e o respeito que é preciso, tanto em relação a eles quanto ao gado, para que o trabalho pudesse acontecer dentro de um nível de segurança e eficiência para as pessoas e os animais.
Esse foi o período que estava casado com a Bia Lessa, artista, diretora de teatro e cinema. Ela estimulava os meus interesses em outras áreas, como a Filosofia Zen e as Artes Marciais, Literatura, Pintura, Psicologia, Teatro, Cinema, Música, etc... em fazer parte desse universo e levar parte dele para os cursos, criava um clima mágico entre os participantes.
Em 1990, entrei em contato com os irmãos Dorrance e também Ray Hunt. Embora as informações vindas desse novo universo pareciam complexas, logo percebi que me dariam as ferramentas para entrar cada vez mais fundo no entendimento do cavalo para um Todo; Mente Físico e Espírito. Tudo parecia estar conectado. Tom Dorrance dizia: “Devagar é o jeito mais rápido de se chegar lá”. Na verdade, quando se lida com psicologia não se deve ter pressa de cura. É preciso aprender a ver as causas e não apenas os sintomas. Então percebi que no treinamento de cavalos, metade é o ‘que se faz’, a outra metade é representada por ‘como se faz’. Por isso, a importância do desenvolvimento constante da Sensibilidade, Timing e do Bom Senso seja a prioridade fundamental.
Todo este aprendizado contribui para que José Borba tornar-se conhecido como “domador de gente” e filósofo. Ele percorreu todo País, ensinando aos peões e cowboys os segredos do Horsemaship, baseado na responsabilidade mutua, na paciência, na compreensão e na consistência. “O meu curso é um beabá destinado a fazer o cavalo se acostumar com a gente. Se o domador não entende que ele é uma ponte, uma transição e não o final deve desistir. Por isso é que considero o cavalo um psicanalista: ele questiona o homem e o força a vencer suas dificuldades”.
No Brasil, Borba recebeu mais de 3 mil cavalos xucros e milhares de pessoas aprendendo a “ler” cavalos e “gente”. Sensível, amigo de todos, formou uma nova filosofia entre os cavaleiros que, com seus ensinamentos, aprenderam a ter uma fraternidade mágica com os animais, numa convivência leal e cheia de energia, tornando-se campeões em várias modalidades. Em uma das matérias publicadas na Revista Quarto de Milha com o professor Borba, selecionamos depoimentos de três competidores que receberam seus ensinamentos e se tornaram destaques no meio quartista.
“Ele descobriu a capacidade de transformação que o cavalo exerce sobre as pessoas. Ensinou-me que o cavalo é muito mais que interessante do que eu imaginava. Montando hoje, extravaso toda minha emoção e criação”, diz Paulo Koury.
“O Borba foi meu primeiro ídolo, professor. O Quarto de Milha de modo geral deve muito ao Borba, ele revolucionou o treinamento de cavalos no Brasil”, argumenta Gilson Vieira Diniz, homenageado no “Hall da Fama” 2013.
“A imagem que se tinha de um domador de cavalos era de uma pessoa forte, ignorante, que dava a pancada e aguentava pulos. Essa imagem começou a mudar com o trabalho de Borba, que nos mostrou que mulheres e crianças são capazes também de domar um cavalo sem violência. Basta saber aprender a “ler o cavalo”, comentou João Antonio Salgado Filho, o Jango.
O professor, domador de gente e filósofo têm na cabeça a imagem do cavalo como está registrada no horóscopo chinês:
“Eu sou o caleidoscópio da mente. Eu transmito luz e movimento perpétuo. Eu penso, vejo, eu sou movido por elétrica fluidez. Constante apenas na minha inconstância. Não sou prisioneiro de influências terrenas. Não sou reprimido por objetos inflexíveis, coercivos. Eu corro livre através de trilhas virgens. Meu espírito inconquistado. Minha alma eternamente livre. Eu sou o cavalo”.
Antônio Renato Prata
Com raízes na pecuária mineira, Antonio Renato Prata, o Pratinha, como é conhecido, iniciou sua história voltando ao passado desde o tempo de seu avô. “Ele tinha uma grande fazenda em Uberaba e casou-se por duas vezes. Com o seu falecimento, deixou um pedacinho de terra para cada um dos 16 filhos.
E o meu pai, que era o mais novo da família, mudou-se para Paulo de Faria (SP), que com o desbravamento desta região atraiu o negócios com o gado. E foi numa dessas viagens levando touros para vender no Rio Grande do Sul, veio a falecer em São Paulo. Sem dúvida foi um transtorno muito grande. Então minha mãe, que era muito jovem, pois tinha apenas 36 anos, junto com meu irmão mais velho liquidaram o plantel. Com a venda, mudou-se para Uberaba e lá adquiriu um hotel. Com esse empreendimento ela criou a família inteira. Com esse hotel ela criou os sete filhos e todos saíram ‘gente boa’, brincou.
Então, praticamente sou paulista, porque nasci em Paulo de Faria, mas fui criado próximo a Uberaba. Aí, como era o mais novo, fui morar com a minha avó. Ela me pegou para criar e levou para a sua fazenda que era em Campo Florido (MG). Eu fiquei lá até os 12 anos e depois voltei para Uberaba para estudar no ginasial. Nesta época o auge era o gado Zebu, que estava muito valorizado. Praticamente me criei nesse ambiente da pecuária até me formar em Agronomia e fui estudar na Escola Nacional de Agronomia, próximo do Rio de Janeiro.
Depois de um tempo me casei e vim morar aqui em Presidente Prudente (SP), porque o meu sogro tinha uma empresa na cidade e me trouxe para trabalhar com ele. Como eu já mexia com pecuária, ele me entregou uma fazenda em Paranavaí (PR) para administrar. Trabalhei também com o meu cunhado Rubico de Carvalho, um ‘zebuzeiro conhecidíssimo’, lá de Barretos (SP), onde atuamos com a lavoura de ‘sequeiros’ - cultura sem irrigação -. Foi um período muito difícil, pois não tínhamos boas máquinas. Depois nós fundamos uma firma para produzir ração balanceada e sal mineral, onde fiquei por lá mais ou menos de 6 a 7 anos.
O meu envolvimento com a raça Quarto de Milha começou em 1971, quando adquiri o meu primeiro potro, o Hebraico SKR, no Leilão da Swift King Ranch, e passei a fazer mestiçagem com uma tropa de alta qualidade de Mangalarga Paulista.
Depois importei dos EUA o Pawnee Dale, que foi campeão brasileiro de Laço de Bezerro em 1982. E em seguida me dediquei totalmente à linhagem de Apartação, pois eu já possuía um plantel puro que comecei a cruzar com Sanjay e Doc’s Gamay, que foi a base da seleção de Trabalho.
Posteriormente importei o garanhão Winnin Doc, em condomínio, que até hoje temos remanescentes desse famoso garanhão.
Atualmente estou cruzando essas éguas bases com os melhores jovens garanhões de Apartação. Os produtos já começaram a mostrar que têm qualidade e iremos treiná-los para participarem dos próximos Potro do Futuro.
Do nosso próprio criatório saíram quatro campeãs Potro do Futuro. Foram elas: Candy Diamond 2I, em 1988; a Verdadeira 2I, em 1994; o Doc´s Again 2I, em 1996; e a Sonora Song 2I, em 2003.
O último campeonato conquistado foi com a minha neta Donata Prata Volpon, com apenas 9 anos, disputando a classe amadora com uma égua do nosso criatório, a Feiticeira 2I. Em relação a esta égua, conquistamos vários prêmios. Inclusive montada pelo nosso antigo treinador Gerson Almeida Santos, pela minha filha Renata Prata e pela minha outra neta Isadora Prata.
A longo de minha trajetória na raça, exerci algumas funções administrativas, como o cargo de vice-presidente da ABQM e várias vezes do Conselho Deliberativo, além de ser presidente da Anca, fundador e presidente do Rancho Quarto de Milha de Presidente Prudente - o primeiro desta modalidade no Brasil.
Um dos eventos que divulgou a raça QM na região também foi o Rodeio dos Campeões, no Rancho Quarto de Milha, organizado pelo “Os Vaqueiros” onde, Guilherme Prata, meu filho, e um grupo de amigos foram os fundadores.
Fui também o primeiro presidente dos Independentes e fundador da festa do Peão de Boiadeiro de Barretos.
Continuo investindo e acreditando que esta é a raça mais versátil do mundo, que dá muita alegria e satisfação para os que nela acreditam e investem”.
Publicador de Conteúdos e Mídias
Conteúdo com Anos 2014 .
Animais Premiados
Quatro destacados animais deixaram seus nomes marcados na história da raça Quarto de Milha, nesta 10ª edução do Hall da Fama, no dia 28 de fevereiro, Casa Giardini, em São Paulo, capital.
Don Diego Bars
udo começou quando os empresários José Carlos Gonçalves e seu filho Luciano Gonçalves, naturais de Campina Grande (PB), adquiriram o animal Don Diego Bars, um filho de Mr Hulk e Minie Apolo Bars (Shady Apolo Bars). Esse garanhão tornou-se um verdadeiro reprodutor de campeões, destacando-se as vitórias de seus filhos nos Campeonatos Nacionais ABQM de Vaquejada desde 2005.
O único reprodutor a gerar três filhos em eventos nacionais da ABQM, com destaque para os vencedores do Campeonato Nacional 2005 da Classe Amador: Mr Objechion Wars (puxando de direita), montado por Luciano Gonçalves, e Princesa Filly HJG (esteira), montada por Artur Freire Neto. Na Classe Aberta (Profissional) venceu com HJG Cadillac (puxando), montado por Thiago Lyra, que foi o campeão pela FEVAP em 2006.
No mesmo ano, produziu o reservado campeão nacional Amador Sweet Apolo Bars, com Luciano Gonçalves, e o vencedor da Classe Jovem, HMA Cadillac (cavalo de puxar), pertencente a João Ura. No Potro do Futuro teve seu nome mais uma vez no pódio, representado pelo filho Don Principe Bar HJG, montado por Eduardo Campos (puxador). Já no Potro do Futuro da Classe Aberta ficou em segundo lugar com o animal Don Shady Bar HJG, tendo como puxador Ricardo Rodrigues da Silva, além do 4º lugar obtido por Sweet Apolo Bars, com Antonio Gonçalves.
Essa história nos enche de orgulho”, diz Luciano Gonçalves, que começou a mexer com a modalidade ainda jovem, incentivado pelo pai: “Trabalho com a vaquejada desde os 12 anos de idade, daí nunca mais parei”. Segundo conta, ele e seu pai estão empenhados cada vez mais em fazer verdadeiros campeões de Vaquejada: “Nós temos animais que possuem uma excelente qualidade, com um tratamento adequado e uma genética que nos permite reproduzir verdadeiros campeões, além de uma experiência de mais de 20 anos com cavalos da raça Quarto de Milha”.
Toda essa potência genética que faz de Don Diego Bars o garanhão campeão, fica alojada no Haras Joel Gonçalves, composto por um plantel de mais de 100 animais, localizado no município de Lagoa de Carro (PE), situado há 70 quilômetros de Recife.
Ele é pai não só desses animais, mas de inúmeros outros campeões, com destaque para: Miss Rojo Bars HJG (Grampola) - considerada como uma das melhores éguas da modalidade em todos os tempos -: Black Diego HJG; Don Diego Eternaly e Don Diego HJG, muitos deles ganhadores de carros, sempre dando muito orgulho ao proprietário.
Shady Apolo Bars
história desse grande raçador confunde-se com a própria história do Quarto de Milha no Brasil, pois Shady Apolo Bars foi um dos cavalos que se eternizou na raça.
Nascido em 1970 nos EUA, esse filho de Ranch Bars e Miss Shady Bars (Johnny Bars), foi importando pela Fazenda Berrante, de Renato Eugênio de Rezende Barbosa. Desaparecido em 1980, teve uma passagem curta, no entanto, brilhante pela criação nacional, fazendo história nas pistas de Trabalho como Campeão Nacional de Apartação, tanto pelas mãos de Jayme de Jesus Rodrigues como por Eloy Medeiros Loureiro, e por sua boa estrutura morfológica, sagrando-se grande campeão de Conformação por oito vezes. Porém, seu grande legado foi construído por meio de sua história na reprodução, onde sua genética se alastra por gerações.
Apesar de ter produzido no Brasil apenas 118 produtos, entre os anos de 1974 e 1980, seu sangue corre nas veias de inúmeros filhos, netos e bisnetos, campeões e Registros de Mérito, vários deles liderando as estatísticas em diversas modalidades de Trabalho, entre elas, a Vaquejada e as provas de Velocidade.
O criador pernambucano Sérgio Novaes, conhecedor da história deste importante garanhão, inclusive realizando por duas temporadas (2012 e 2013) leilões com tributo à Shady Apolo Bars, durante o Congresso e Derby de Vaquejada, comentou: “A maior prova de que sua progênie tem a capacidade de herdar suas melhores características, tanto na morfologia quanto na habilidade, são os grandes reprodutores e matrizes que ele produziu em várias linhagens do Trabalho, alguns inesquecíveis como: Shady Leo, Go Man Bars II, Gold Sonora, Black Shady, Oil Apolo, Silver Apolo Bar e o saudoso Ronald da ER”.
Ele informou ainda que a saga de campeões de Shady Apolo continua com sua terceira e quarta gerações, com destaque para os líderes de estatísticas, em atividade, na reprodução: El Shady Zorrero, Shady King Times EK, Líder da SM, Don Diego Bars, Shady Steel SLN, Eternaly Handdome, Myke Ronald Bars, EF Shady Brown, entre outros. “Além disso, despontam como grandes revelações entre os garanhões jovens, cujos filhos estrearam recentemente com muito sucesso nas pistas, Eternaly Rojo JR e Ronald Gates HCB”, afirmou Novaes.
Os descendentes de Shady Apolo Bars continuam ocupando posições de liderança nas Estatísticas de Produtores com grande atuação nas modalidades de Três Tambores, Seis Balizas e Vaquejada.
Melodys Dun It
elodys Dun It, filho de Hollywood Dun It e Stages Melody (Skipn Stage), foi adquirido pelo Haras Sacramento, de Avaré (SP), em meados de 1994. “A compra foi uma grande alegria naquele ano, mas ao mesmo tempo foi um ano muito difícil pra mim pela perda do meu pai”, revelou Jefferson Butti Abbud.
Segundo o criador, na época o Melodys já era um consagrado campeão de Rédeas nas mãos do Tim Mcquay, e por conta disso foi grande a expectativa da vinda dele para o Brasil: “O primeiro e importante ganhador de Rédeas americano”.
O cavalo acabou chegando ao Brasil em março de 1995, e teve seu lançamento oficialmente no Leilão LIQH. “Para nossa satisfação, foi recordista nacional de venda de coberturas”.
Jefferson informou que os filhos de Melodys estrearam no ano de 2000 e ganharam muitos títulos em quase todas as modalidades de Trabalho e seguiu produzindo outras gerações de ganhadores até que em março de 2005, aos 16 anos de idade, veio à falecer, deixando 299 filhos, totalizando 1214,5 pontos”.
“O Melodys Dun It segue até hoje como número 1 do Ranking de Reprodutores de Rédeas em todos os tempos, tanto pela ABQM, quanto pela ANCR, além de ter produzido inúmeros campeões de Laço, Cow Horse, Team Penning, Vaquejada, Tambor, entre outras modalidades. Foi e é também um grande avô materno e paterno”. Aliás, Jefferson resalta que o garanhão tem 193 netos com mais de 2.560 pontos.
Entre os inúmeros produtos pontuados pela ABQM, destacamos os “top 10”: Racy Melodys (146,5 pontos); Beautifil Melodys e Caroline Melody, ambas com 72,5; Very Melodys (65);Safari Dun It LN (55,5); Thousand Melodys MA (47); Next Dun It (45); Absolute Melodys VSJ (42,5); Melodys Prescription (32,5); e Nice Jac (30).
Jefferson ressalta que uma das principais coisas que marcou a trajetória do Melodys era o carisma que ele tinha: “As pessoas, e foram muitas, muitas mesmo, visitavam o Haras Sacramento para conhecer pessoalmente o Melodys e pediam para tirar fotos com ele”.
Finalizando, Jefferson reverencia o cavalo: “Ele foi, sem dúvida até hoje, o grande ícone da história dos 35 anos do Haras Sacramento, e agora será “eternizado” pelo Hall da Fama através desta linda homenagem da ABQM, da qual eu agradeço imensamente”.
Apollo VM
com orgulho que reproduzimos trechos da matéria publicada em 1990, na edição 68, sobre o craque Apollo VM, após sua vitória no GP Potro do Futuro, no Jockey Club de Goiás (GO), escrita por Vicente Mola Neto (in memorian) - um dos mais importantes cronistas de turfe e colaborador de nossa revista.
“O Apollo VM é um castanho de extraordinária formação física, nascido em 1988 no Haras Canarim de propriedade do senhor Marcus Vinicius Feliz Machado, que importou a mãe do campeão dos Estados Unidos, para complementar o selecionado plantel desse importante estabelecimento de criação”. Com seu olho clínico, Mola previu um futuro promissor para o cavalo: “Com tal carga genética, é evidente que Apollo VM além de suas virtudes excepcionais de corredor, tem tudo para ser no futuro um extraordinário reprodutor e daí a solicitação de vários criadores para que seja sindicalizado proximamente”.
Em outra parte do texto ele enalteceu o campeão: “Evidenciando tais virtudes e consequentemente eliminando qualquer sombra de dúvida quanto ao seu incomparável potencial de corredor, Apollo VM tem tudo para se consagrar como o melhor Quarto de Milha em campanhas nas pistas brasileiras. Em todas as suas vitórias foi dirigido com muita facilidade pelo jovem piloto M. Sampaio e nesta consagradora conquista do Potro do Futuro foi apresentado sob a responsabilidade do treinador L. Levir”.
Esse filho de Jet Toro (Easy Jet) e For Tears Only (Dash For Cash), tem um cartel invejável, pois foi vencedor invicto em 13 corridas, incluindo além do Potro do Futuro e Rei da Velocidade, o título de Tríplice Coroado. Na reprodução mostrou sua versatilidade gerando inúmeros craques. Na Corrida, destaques para: Traquina West SA, Our Fortune, Tagarela Darlin SA, Hawker Jet VM, Dash Only VM, Cameron Gallants, Toto Lark SA, Apollo Charge, Lucy Lark, Only Me, Rita Six, Daytona Apollo MRL e Intimate Dream. Nos Três Tambores e Seis Balizas: Victory Fly VM, Vivid Apollo, Strick Moon ZO e Jerry Verde; e na Vaquejada: Super Guga Charge, Recife Apollo MRL, Gibraltar Apollo MRL e Salvador Apollo MRL, entre outros.
Cesar Augusto Machado, titular do Haras Canarim e um dos responsáveis pela brilhante campanha do garanhão, expressou: “Um fato bem interessante que poucos sabem é que o Apollo quando potro foi oferecido para os principais criadores da época por 10.000 dólares e ninguém quis”. Ele conta que se impressionava pelo fato do cavalo ser grande, mas extremamente dócil. “Ele chegava para correr e até tropeçava, mas quando entrava no boxe mostrava muita docilidade, atenção, inteligência e extrema rapidez, pois nunca perdeu uma corrida. Além da Corrida, ele também fez história ao longo dos anos em provas como Vaquejada e Tambor, através de seus filhos que se consagram como craques”.